Quanto mais o tempo passa mais me convenço que celebrar o Dia da Rendilheira é limitativo porque é assumir que um dia pode ser a mola impulsionadora de um artesanato que já viu melhores dias e que precisa mais que festas e folias para poder futuro.
Sou
dum tempo em que entrava em casa da minha avó (a Guilhermina Baterremos) e
junto à janela do “quartinho” lá estava ela a dar aos dedos ou se não estava,
estava a almofada coberta com uma toalha de linho ou de algodão, enquanto ela
preparava o almoço ou forrava algum caixão.
Todos
os dias eram dias de rendilhar, porque ser rendilheira era um modo de vida. Não
se celebrava o dia da rendilheira, como não se celebrava o dia do pedreiro, ou
da conserveira, ou do pescador. Quando é que percebemos que celebramos o dia
disto e daquilo, quando isto e aquilo deixam de fazer parte do nosso
quotidiano.
O
Dia de… serve para recordar o que já foi. Quando as rendas de bilros eram de
facto um factor de subsistência não precisávamos de as celebrar. Já não há
Abril e celebramos Abril. Acabar com o Dia da Independência Nacional foi bem
visto, porque já não somos independentes.
Depois
havia quem vivesse de picar. Ou de cerzir. Ou de vender rendas.Mostra internacional de rendas de bilros? Tudo bem. Mas o que fica como elemento que motive tanta gente desempregada a dedicar-se às rendas de bilros? São ou não são rentáveis. Se não o forem fica o Museu e podemos convidar pessoas de todo o mundo a virem, estarem e fazerem rendas da sua região durante 15 dias. Teremos então uma mostra internacional ao longo de todo o ano. Ou não fazemos nada disso e vamos à Internet.
Isto
é mais uma achega para eu criar más disposições sobre o que digo ou o que
escrevo. Sei que isto é politicamente incorrecto. Mas já não preciso de me
bater por simpatias momentâneas.
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