domingo, novembro 06, 2016


UM CASO DE AMOR

Corria a 2ª metade do mês de Abril de 1974. A minha mãe iria dar entrada a 24 desse mês na Cruz Vermelha Portuguesa para ser operado à vista, pois já tinha cegado. A 25 é-lhe comunicado que teria que abandonar o Hospital para ele poder dar resposta a eventuais situações de feridos que uma revolta das Forças Armadas pudesse eventualmente provocar.

Nessa altura uma família de Lisboa que visitava Peniche há vários anos e que se tornara amiga de meu pai, convidou-o e à minha mãe para aguardar em casa deles, nova data para o acto operatório que se viria a realizar de facto a 28 do mesmo mês.

Assim é que nasceu aqui uma amizade que se desenvolveu até à morte dos meus pais. A partir daí dilui-se no tempo as relações dessa família comigo e com o meu irmão enquanto foi vivo.

Por causa do Benfica e de algum jornalismo de grande qualidade que felizmente ainda vai ocorrendo no nosso país, vim a perceber que um desses jornalistas se tinha ligado pelo matrimónio a uma das meninas que pertencia a essa família.

Aproveitei esse conhecimento para lhe enviar uma foto desse tempo com aquela que iria ser muitos anos depois mãe do seu filho. Ele de forma simpática enviou à família essa foto, o que veio a gerar uma cadeia de solidariedade entre todos aqueles que o tempo tinha matado o contacto.

Hoje e depois do reatar desse contacto sinto a alegria de que a amizade, o carinho e mesmo o amor que une pessoas das mais diversas formações, dos mais diversos locais e interesses culturais, políticos ou outros, é um valor a preservar nos tempos difíceis que vivemos hoje, em que a ausência de laços paraece permitir todo o tipo de má fé entre as pessoas.

Podem passar os anos, que se por um momento de acaso baterem as asas de uma borboleta na Austrália quando um Benfiquista celebra um golo, em Peniche pode perfeitamente um tipo reformado achar que assistiu a um milagre.

Louvado seja tudo o que contribuir para unir as pessoas.

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