A FOTOGRAFIA
“Primeiro descobri isto. Aquilo que a Fotografia reproduz até ao infinito só aconteceu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente.” Roland Barthes Dos meus álbuns retiro os instantes que fixei. Ou que outros fixaram para mim. Esta Fotografia dói-me muito. Não por ter 48 anos. Nem por me afastar meio século do momento em que foi fixada. Não pelos que estão representados. Nem pelo objecto da sua fixação.
Esta Fotografia representa os alunos finalistas do Curso de Formação de Serralheiros, da Escola Industrial e Comercial de Peniche em 1960/1961. A Papôa foi o lugar escolhido para a fixação.
Não é nada disto que me faz sentir mal. É o que lá não está. Isso é que me assusta. Isso é que me dói. Na foto estamos 9+1. O que eu digo mais um, é o Chico Dias, que acompanhava o irmão sempre que podia, e ali estava também. Dos 11 alunos finalistas estão ali 9. O Rafael com o cigarro na boca. Ao lado o Lourenço. A seguir o Jorge Machado. Em pé o Manel Dias e eu. Sentados no chão no centro da foto o Saúl olhando para lá do instante em que a foto foi fixada e o Zé Júlio de chapéu de cowboy. Mais atrás deitado o João José. À frente de todos numa atitude de relaxe completo o Cabé.
Estes são os representados. Falta o autor do disparo na máquina. Que não sei quem foi. E falta um outro.
O que me faz sentir mal é eu já não conseguir saber quem falta ali. Quem são os meus dois colegas que ali não estão representados. Não passou assim tanto tempo e eu já não sei quem são. Um creio tratar-se do Carlos Laranjeira. E o outro? Sinto-me mal comigo mesmo. Todos os caminhos que pensámos trilhar juntos foram dispersos pelo tempo. Resta esta Fotografia. Incompleta. Inconclusiva. Parcial. Assim ficámos.
1 comentário:
Olá Zé Maria,
O Carinhas não fazia parte dessa turma??? E o Salsinha?
Um abraço, Belmira
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