sexta-feira, setembro 07, 2012

O CAFÉ DOS PESCADORES
Entrar hoje no “Café dos Pescadores” é já um hábito, um vício, ou uma tradição. De tal maneira que até aos domingos lá vou para ler o meu jornal na companhia da minha mulher e muitas vezes, da minha filha. Mas, entrar lá é saber que me vou encontrar com o Francisco António. O Bernardo para muitos. Entro, dirijo-me à mesa em que ele toma o pequeno-almoço e lê o jornal e começamos a conversar em conversas sem destino. Falamos do pai dele, da mãe dele, do meu pai. Do meu irmão. Dos eventos que passam na Av. do Mar e que ele e a mulher vêm em lugar privilegiado. Falamos dos nossos tempos de Bissau em que ambos lá trabalhámos em tempos de Paz e de Guerra. Falamos daquilo em que concordamos e daquilo que discordamos. Da ideia que ambos temos sobre o respeito que os amigos nos merecem e do passar à frente em relação àqueles que não merecem sequer que pensemos neles. Falamos dos sucessos dos filhos dele e de alguns trambolhões por que também já passaram apesar de serem novos. Falamos da minha filha e do seu espírito aventureiro. Falamos de Governos e dos Desgovernos em que vivemos. Falamos de tudo o que nos apetece insaciavelmente com medo de perder a oportunidade de conversarmos sobre o que nos alegra e o que nos entristece.
Falamos de Peniche de Cima. E do cheiro a algas. E dos dias em que as bandeiras são hasteadas na muralha.

Como não acredito na vida depois da Morte e penso que tudo termina ali, não posso recordar o Francisco António Bernardo senão assim. No presente do indicativo. Sei, sinto que quando tornar a entrar no Café dos Pescadores ele vai estar lá comigo. Nas recordações que tenho dele e com ele. E quando passar de carro em frente ao Parque do Baluarte vou revê-lo a passear o cão. O Francisco António não se vai apagar da minha memória porque sempre viveu no meu coração.

Um abraço, amigo.

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