quinta-feira, agosto 29, 2013

TER RAZÃO ANTES DE TEMPO

Nos idos de 90 do século passado, estava eu no Conselho Directivo da então Escola Preparatória da Lourinhã com a Zinha e a Margarida Patrício e como todos os anos fizemos o balanço do que foi o ano lectivo findo.
Recordo que me fazia mal ao fígado quando via um ano escolar terminar e ver que os alunos após terminarem as aulas enchiam os contentores de trabalhos que tinham produzido com dinheiro da escola, manuais escolares e cadernos diários. Para mim que continuo a guardar religiosamente os livros do meu pai, os meus e os da minha filha, isso doía-me de forma muito particular.

Propus então às minhas colegas que desenvolvêssemos uma campanha dinâmica junto dos alunos dos professores e dos encarregados de educação, para forrarem os seus livros, manuais escolares e cadernos de exercícios e só escreverem neles a lápis. No final do ano entregá-los-iam na Escola para poderem ser utilizados pelos colegas que lhes sucedessem. Com o dinheiro poupado seria adquirido material didáctico com o objectivo de melhorar a qualidade de ensino que a escola desenvolvia.
Resta dizer que a campanha foi um êxito. Não só os alunos com apoio da Acção Social Escolar, mas também aqueles que tinham adquirido os livros por si próprios aderiram e tornaram possível um exemplo de solidariedade de que nos orgulhámos.

Mas… Todas as coisas têm um mas que estraga tudo. O coordenador da CAE-OESTE para este sector da ASE, veio à minha escola com ameaças de que essa campanha era ilegal, que os livros dados aos alunos eram pessoais e intransmissíveis e que ou eu terminaria com a campanha ou ficaria sujeito a uma acção disciplinar pois ele queixar-se-ia de mim à IGE (Inspecção Geral de Ensino). É claro que mal-educado como sempre fui lhe disse onde ele podia meter a queixa que de mim quisesse fazer.
Engraçado. Poupávamos dinheiro ao Estado. Promovíamos uma acção que evitava que os livros fossem parar à lixeira. Ensinávamos a tratar os livros como amigos a defender. A qualidade de ensino na Escola melhorava e o burocrata (é o mínimo de que o posso apelidar) ameaçava-me disciplinarmente.

Passados todos estes anos o Ministério vem promover uma iniciativa que peca por tardia e vários defeitos. Desde logo por não ser extensiva a todos os alunos. Depois torna-la obrigatória não dando oportunidade aos alunos que embora sendo carenciados desejem preservar os seus manuais como um tesouro do passado para o seu futuro. Por último, ameaçando os que são filhos de situações mais disfuncionais com atitudes futuras que os tornarão ainda mais marginais se falharem nas atitudes a que o Estado perdulário  os obriga.
E aqui está como passando do 8 ao 80 continuamos presas de quem não tem méritos para as funções que desempenha. E dizem-se cristãos estes idiotas que nos governam.

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