E pensei também que numa agência funerária aqui próxima de minha casa, é notícia o fim de vida de homens e mulheres do nosso concelho com 80 e muitos anos, ou 90 e tal anos.
Foi então que me ocorreu que aos 50 ou aos 60 se morre. Aos 80 e aos 90 as pessoas apagam-se.
Esta
diferença marca aquilo que é justo esperar, daquilo que é inglório acontecer. E
nesta diferença reside a brutalidade da notícia ou a fatalidade anunciada e
aguardada com serenidade.
Marcam-me
pensamentos destes nesta manhã de 2º feira e aqui estou a expor-me de forma franca
e sinistra com coisas a que me deveria poupar e a vós. Mas que fazer depois das
notícias da manhã? Depois de saber que vou receber o subsídio de férias no
Natal reduzido em 50%, porque o que este governo dá com a mão esquerda, rouba
com a mão direita. Depois de ter visto no dia 3 de Novembro as criancinhas nas
ruas da minha terra a pedir o pão-por-Deus. Aguardo pacientemente que o Natal
mude para o Carnaval e que a passagem de ano se celebre na Páscoa. Aguardo para
ver quem aluga a Escola 2.3 de Atouguia da Baleia e quem é que quer comprar uma
escola aqui na cidade. Aguardo firmemente que retomem a lei dos cães e dos
gatos nos apartamentos. E vou esperar sentado que a palavra irrevogável
signifique de novo “o que nunca mais acontecerá”.
Até me
apagar definitivamente. Já que detestaria morrer.
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