segunda-feira, novembro 04, 2013

PARAR PARA ME VER

Já chegado a este ponto toca-me a fragilidade das coisas boas que a minha vida ainda me poderá reservar. Ouço os Arcade Fire em Reflektor e penso nos inúmeros amigos e conhecidos que com 50, 60, 60 e poucos anos, vão sucessivamente desaparecendo.
E pensei também que numa agência funerária aqui próxima de minha casa, é notícia o fim de vida de homens e mulheres do nosso concelho com 80 e muitos anos, ou 90 e tal anos.

Foi então que me ocorreu que aos 50 ou aos 60 se morre. Aos 80 e aos 90 as pessoas apagam-se.

Esta diferença marca aquilo que é justo esperar, daquilo que é inglório acontecer. E nesta diferença reside a brutalidade da notícia ou a fatalidade anunciada e aguardada com serenidade.
Marcam-me pensamentos destes nesta manhã de 2º feira e aqui estou a expor-me de forma franca e sinistra com coisas a que me deveria poupar e a vós. Mas que fazer depois das notícias da manhã? Depois de saber que vou receber o subsídio de férias no Natal reduzido em 50%, porque o que este governo dá com a mão esquerda, rouba com a mão direita. Depois de ter visto no dia 3 de Novembro as criancinhas nas ruas da minha terra a pedir o pão-por-Deus. Aguardo pacientemente que o Natal mude para o Carnaval e que a passagem de ano se celebre na Páscoa. Aguardo para ver quem aluga a Escola 2.3 de Atouguia da Baleia e quem é que quer comprar uma escola aqui na cidade. Aguardo firmemente que retomem a lei dos cães e dos gatos nos apartamentos. E vou esperar sentado que a palavra irrevogável signifique de novo “o que nunca mais acontecerá”.

Até me apagar definitivamente. Já que detestaria morrer.

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