Um destes dias numa conversa informal sobre o 25 de Abril e os seus antecedentes, veio à memória a luta dos trabalhadores do comércio e dos pescadores entre outros para conseguirem que os horários não se estendem-se para além do razoável, para que pelo menos não se trabalhasse ao sábado à tarde e ao domingo. Ter a sorte de ter um dia para descansar era mais do que aquilo a que o comum dos mortais podia aspirar.
Mais de 40
anos depois destas lutas que conduziram sindicalistas à prisão ou a
dificuldades tremendas com a polícia política, um pouco por toda a parte
assiste-se a um retomar dos horários de trabalho dos tempos do corporativismo,
e já é um luxo não ter mais de um emprego.
A
tecnologia tomou conta dos nossos destinos, sabem tudo sobre nós, vigiam-nos
sem que o saibamos. Estes PIDES de agora e os seus bufos são mais difíceis de
distinguir e combater.Perante isto tudo recordámos os dias que as corporações escolheram para satisfazer necessidades primárias dos seus mestres. Assim foi com a 2ª Feira dia de descanso dos sapateiros. O porquê da 2ª Feira é a parte interessante desta ideia. Muita gente andava há mais de 40/50 anos descalça. Não se justificavam sapatos para trabalhar no campo, ou na ribeira. Na maior parte das fábricas umas alpercatas eram suficientes. Ou em casos mais extremos, umas botas de materiais rígidos que teriam de durar toda uma vida. E que acabavam por ficar para filhos e netos.
Nesses
tempos uns sapatos mesmo que muito usados eram um bem precioso. Ou umas
sandálias. Compravam-se para o casamento e teriam de durar para toda uma vida,
porque ao sábado ou ao domingo eram usados para a missa, onde “parecia mal”
entrar descalço. É claro que o tempo gastava as solas por mais duradouras que
fossem. E muitas vezes se sobejavam (?) alguns cruzados pedia-se ao sapateiro
que as arranjasse. Meias solas, uns saltos, uns protectores para lhes conferir
mais durabilidade. Nesse tempo os sapateiros eram uma profissão de muito
trabalho e proliferavam nas ruas da vila. Os dias da semana eram curtos para
arranjar sapatos, botas, botinas, sandálias e alpercatas que tinham de estar
prontas para sábado ou domingo. Ou as botas de trabalho que teriam de estar
prontas para 2ª feira. E que só o dinheiro da semana dava para mandar arranjar.
Sábado e domingo eram pois dias de muito labor. O descanso dos sapateiros teria
de ser à segunda feira quando as tarefas acalmavam um pouco.
Assim
nasceram as 2ªs feiras como dias de descanso dos sapateiros. Com este
liberalismo selvagem, lá regressaremos. Que se cuidem os que agora deitam fora
os sapatos um pouco usados.
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