Ligamos o rádio para o RCP e ouvimos a música e o comunicado do MFA. Eu vislumbrei um golpe contra o regime do estado Novo, pela música que se ouvia e pelo teor do comunicado.
O meu irmão estava siderado com a situação, não compreendendo como podia ser possível haver um golpe de Estado promovido pelas Forças Armadas e ele desconhecer em absoluto o que se passava. Nem sequer conseguia raciocinar.
Tomei
um banho rápido, tentei ligar para a CVP para saber dos meus pais e vesti-me
rapidamente e fui para a Escola Comercial e Industrial onde já encontrei o seu
director, Pintor Edgar Sardinha, a tentar colocar ordem na agitação que
começava a fervilhar.
Pelas
11:00 horas, suspendeu as aulas quando os militares começaram a entrar na vila
para se dirigirem à Fortaleza e pediu a todos de nós que tivessem carro que
fossemos distribuir os alunos do concelho pelas suas localidades de origem.
A
partir daí a agitação apoderou-se de todos os que nos tínhamos empenhado numa
alteração do regime vigente. Junto à Fortaleza até sair o último dos presos
políticos. Preparando as coisas para as manifestações que estalaram de apoio ao
“Golpe de Estado”.
Depois
foi o primeiro 1º de Maio. A exoneração do Presidente da Câmara. A caça aos
Pides. A nomeação para presidir aos destinos do Concelho da Comissão
Administrativa. O eclodir dos Partidos Políticos, a divisão de quem sempre
tinha colaborado em consonância em esquerda e direita. Em revolucionários e
reacionários. A descolonização. O 28 de Setembro. O 11 de Março. As primeiras
eleições livres. Os que ajudaram a consolidar o regime democrático e os que
dele fizeram um filão para atingirem os seus objectivos.
Até
ao estado a que isto tudo chegou.
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