segunda-feira, abril 07, 2014

ONDE É QUE EU ESTAVA NO 25 DE ABRIL?

A 25 de Abril de 1974 eu estava a dormir em casa de meus pais. Em casa estava também o meu irmão capitão de Artilharia do Exército que tinha sido evacuado da Guiné onde comandava uma companhia, com problemas de saúde. Os meus pais tinham ido para Lisboa para a minha mãe ser operada à vista no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa nesse mesmo dia. Pelas 08:00 horas da manhã a minha Tia Idália foi a nossa casa e a toques insistentes de campainha lá nos conseguiu acordar para nos avisar de que a “Armada” se tinha revoltado em Lisboa.
Ligamos o rádio para o RCP e ouvimos a música e o comunicado do MFA. Eu vislumbrei um golpe contra o regime do estado Novo, pela música que se ouvia e pelo teor do comunicado.
O meu irmão estava siderado com a situação, não compreendendo como podia ser possível haver um golpe de Estado promovido pelas Forças Armadas e ele desconhecer em absoluto o que se passava. Nem sequer conseguia raciocinar.
Tomei um banho rápido, tentei ligar para a CVP para saber dos meus pais e vesti-me rapidamente e fui para a Escola Comercial e Industrial onde já encontrei o seu director, Pintor Edgar Sardinha, a tentar colocar ordem na agitação que começava a fervilhar.
Pelas 11:00 horas, suspendeu as aulas quando os militares começaram a entrar na vila para se dirigirem à Fortaleza e pediu a todos de nós que tivessem carro que fossemos distribuir os alunos do concelho pelas suas localidades de origem.
A partir daí a agitação apoderou-se de todos os que nos tínhamos empenhado numa alteração do regime vigente. Junto à Fortaleza até sair o último dos presos políticos. Preparando as coisas para as manifestações que estalaram de apoio ao “Golpe de Estado”.
Depois foi o primeiro 1º de Maio. A exoneração do Presidente da Câmara. A caça aos Pides. A nomeação para presidir aos destinos do Concelho da Comissão Administrativa. O eclodir dos Partidos Políticos, a divisão de quem sempre tinha colaborado em consonância em esquerda e direita. Em revolucionários e reacionários. A descolonização. O 28 de Setembro. O 11 de Março. As primeiras eleições livres. Os que ajudaram a consolidar o regime democrático e os que dele fizeram um filão para atingirem os seus objectivos.
Até ao estado a que isto tudo chegou.  

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