quinta-feira, maio 01, 2014

O MEU PRIMEIRO 1º DE MAIO E HOJE
Vão lá perto de 50 anos. Eu estudava em Lisboa no Instituto Industrial. Morava em Campo de Ourique. Comigo estudava um grupo de Peniche de que se destacavam o Jorge Machado, o Parina/Zé Júlio, o Zé Manel Puto, o Zé Maria Martiniano e o Colaço, entre outros. Mas estes eram os mais assíduos nas nossas tertúlias de “O Meu Café”, do Vergas ou do Paris. Fazíamos rumo de Campo de Ourique ao Jardim da Estrela e daí à Buenos Aires onde se situava o Instituto. Pelo caminho dava sempre para um jogo de matraquilhos ou para ver os cartazes dos filmes candidatos ao nosso visionamento.
Um dia, deparamos com a Ferreira Borges, a Domingos Sequeira, enfim tudo quanto era acesso a Campo de Ourique pejadas de polícia de choque. Rapidamente soubemos por panfletos caídos no chão que se preparava para aquele local uma manifestação do 1º de Maio, como forma de repúdio pelo estado novo. Em breve começamos a ter que fugir à frente da polícia de choque que espalhava cacetadas vigorosas em todos os que encontrassem pelo caminho. Ao mesmo tempo os jactos de água afastavam-nos de veleidades, enquanto carrinhas de vidros foscos passavam fotografando todos os que se encontravam nas ruas. Os proprietários dos cafés e restaurantes com o calor da amizade só existente nos bairros, davam-nos guarida e encerravam as portas. Digamos que foram 2 horas de aprendizagem sobre o peso dos bastões nas costelas e sobre solidariedade humana.

Passaram muitos anos sobre tudo isto. Sobre lutas para conseguir mais direitos aos trabalhadores. Algumas dessas lutas conduziram (antes do 25 de Abril) à prisão de muitos cidadãos, ou mais recentemente a dificuldades no relacionamento com entidades patronais ou mesmo com Governos mais ou menos adversos às lutas das classes operárias.

Depois de tudo isto hoje saí de casa com a minha Anita e fomos ao LIDL. Aberto como todos os outros supermercados. Trabalhadores de esquerda, ou militantes de partidos ferozes contra o Governo PSD/CDS, percorriam os mesmos corredores que eu e outros compradores, servidos por aqueles para quem o 1º de Maio já não existe. Que estranho é viver tantos anos e ver tudo mudar. O que ontem merecia a luta e o sacrifício de muitos trabalhadores, hoje não passa de um eufemismo.
Já não haverá luta de classes? Ou seremos todos carne para canhão deste lobo voraz que se chama “o grande capital financeiro”, sem rosto e por isso indetectável?    

Sem comentários: