Poucos anos foram tão controversos em relação a estas festividades como o actual.
Praticamente nasci com a Festa. Sempre me lembro de ver a Festa com características muito semelhantes que lhe conferiram identidade própria.
Recordo
do Pe. Bastos a dizer-me que a Festa tinha duas vertentes. A Religiosa de que
ele não abdicava a sua organização e a profana que era da responsabilidade da
Comissão de Festas.
A
Câmara cedia o terreiro do Campo da Torre e a comissão com o aluguer aos feirantes
angariavam os fundos necessários para levar a efeito a Festa.Mais tarde a Câmara cedeu um local para guardar os enfeites e para a pernoita dos trabalhadores que os vinham aqui colocar.
Tudo muito resumido é isto.
Ao
longo dos anos é claro que ficaram memórias que hoje os mais velhos recordam.
As barracas dos tirinhos. As senhoras que prestavam atendimentos na Prageira no
período da Festa, aos rapazes e homens que procuravam as delícias carnais. As
barracas dos tachos e das panelas. O homem da venda dos turcos. Os restaurantes
de frango assado amovíveis. As cavacas e o Poço da Morte.
Tudo
isto era a Festa da Boa Viagem, incompreensível para os mais novos e para os
recém-chegados. O correr dos tempos trouxe as novas vendas e a conversão do
arraial numa feira de roupas e sapatos. Os feirantes nortenhos foram
substituídos pelos ciganos e é aqui que começam os mal-entendidos.
Dizem-me
que os ciganos não pagam terrado. Ou fogem sem pagar. A solução foi proibir a
venda de roupas e sapatos na Feira. É claro que não houve coragem para proibir
a entrada no Arraial a ciganos. Era demasiado xenófobo para ser assumido pelos
responsáveis da Igreja católica local que se disponibilizam para organizar a
Festa da Boa Viagem. Adoro estas manifestações de amor ao próximo. Este hino às
boas aventuranças. A seguir serão quem os próximos banidos? Os ricaços que
espoliam bancos e que nos obrigam a pagar impostos extraordinários? Ou os que
usem havaianos? Ou tornar-se-á definitivamente uma festa só para católicos?
Volte
Pe Bastos. Está perdoado.
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