terça-feira, setembro 09, 2014

SER PENICHEIRO/PENICHENSE HOJE
Longe vai o tempo em que nascer em Peniche tinha um significado absoluto. Aqui se nascia, crescia, vivia e morria. Ser de Peniche podia ser uma condenação, um estado de alma, ou um motivo de orgulho.
Nascia-se em casa com parteiras curiosas ou diplomadas e raramente no Hospital da Misericórdia.
A península e mesmo os limites territoriais era uma espécie de redoma de onde só se saía para ir à tropa, estudar em casos limites, ou por alguma doença mais complicada que exigia um internamento em grandes Hospitais com recursos mais evoluídos.
Posteriormente a imigração e a migração passou a ser outro motivo para sair do concelho de Peniche uma vez que as suas limitadas capacidades de empregabilidade conduziam à inevitabilidade da saída.
A designada “Guerra do Ultramar” foi outro dos empurrões que levaram aos nascidos aqui a alargarem os seus horizontes.

Hoje só por acidente se nasce no concelho de Peniche. Os filhos dos nossos filhos já não podem dar aqui os primeiros vagidos. Em nome da saúde pública é certo. Mas havia um certo não sei quê em nascer em Peniche.
Hoje o Concelho de Peniche é uma amálgama de gentes das mais diversas origens, etnias, religiões ou formas de vida. A identidade cultural de Peniche (se é que houve alguma) perdeu-se definitivamente. Os nossos jovens sabem e percebem que a resposta às suas necessidades básicas já aqui não está.
Serão autóctones de onde poderem assegurar o seu bem-estar e das famílias que irão constituir. Claro que aqui regressarão para visitar os seus e os amigos mais chegados que por aqui vão vegetando. Até existem boas praias. E as temperaturas embora não sendo as ideais de Verão são agradáveis. Até que também essas poucas referências vão a pouco e pouco desaparecendo. Deixaram de ser daqui para serem cidadãos da aldeia global, como hoje é comum dizer.

Ser Penicheiro é ser capaz de escrever isto com paixão mas sem mágoa. Ser Penichense é só aqui ter nascido.  

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