sexta-feira, novembro 28, 2014

NO TEMPO EM QUE OS ANIMAIS FALAVAM
Em 1962 eu era aluno da Escola Industrial Machado de Castro. O meu professor de português (o saudoso Dr. Carvalho de Lima) como prémio por um trabalho que eu havia feito sobre Antero e de que ele muito tinha gostado, ofereceu-me 1 entrada para o Coliseu para assistir à apresentação em Portugal de uma companhia de teatro grega, que vinha a Portugal pela primeira vez apresentar uma peça creio eu de Aristófanes. Lá fui eu assistir àquele espectáculo deslumbrante com os fantásticos coros, toda falada em Grego que como adivinham eu conhecia com 17 anos tão bem quanto o cantonês.
Um ano depois eu estava no antigo Instituo Industrial de Lisboa (hoje Instituto Superior de Engenharia) ainda na Buenos Aires à Lapa. Ao entrar deram-me a conhecer o programa da recepção aos novos alunos (caloiros). Nessa semana ouvi pela primeira vez um “cante alentejano” pelo grupo dos mineiros de Aljustrel. Foi a primeira vez que ouvi o Adriano Correia de Oliveira e o José Afonso.
Outros colegas meus mais dados a manifestações desportivas entregavam-se às manifestações futebolísticas entre caloiros e finalistas. Todas estas actividades organizadas pela Associação de Estudantes, uma escola dentro da escola.
Nós os “parolos” da província organizávamos passeios à Baixa, tardes no Jardim da Estrela, matinés no vergas (antigo Jardim cinema) e no Paris.

Conto estas coisas para que fique registado o que era a vida de um caloiro naquele tempo em Lisboa. Tudo se alterou. Hoje a diversão em si mesma preside ao que um caloiro necessita para se integrar. Os prémios de actividade estudantil recebem outros contornos. Do que fomos e somos o tempo receberá a influência do que seremos capazes de desenvolver no futuro.

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