quarta-feira, maio 13, 2015

A PADEIRA DE ALJUBARROTA
Regresso à escola primária e às minhas primeiras aprendizagens. Aprendi na escola de Salazar a odiar os espanhóis e tudo aquilo que representavam. Os livros de leitura e a minha História do “José Maria Gaspar” (tanto quanto me lembro), eram deliciosamente divertidas porque faziam de nós (portugueses) os heróis, e deles (espanhóis) os vilões. E os heróis descascavam grandes arraiais de porrada aos vilões. Mesmo que em menor número, ganhávamos sempre. Ganhávamos em heróis e em santos.

O tempo, outras leituras, uma formação académica mais sábia, e um Matoso mais displicente atenuaram a pouco e pouco o meu ódio aos espanhóis, fontes de todo o mal. É claro que pelo meio sempre existiam os jogos de hóquei em patins (nesse tempo o futebol não era o nosso mais festejado desporto) em que nós e eles éramos mais que adversários. Éramos inimigos. E isso não a ajudava a descomplicar os ódios.
Mas lá se foi superando e quando portugueses e espanhóis se aperceberam que eram vítimas dos mesmos caciques começou a desenhar-se uma aproximação entre os dois povos que se tornou francamente digna de se ver.

No meio disto tudo e porque os portugueses têm dificuldade de viver sem ódios de estimação, apareceu o futebol. Com o futebol surgiu criada por uma mente perversa uma divisão Norte-Sul capaz de suscitar os ódios acumulados durante anos. Já não haviam espanhóis, nem salazares para odiar, inventou-se uma guerra entre o norte e o sul, pronta a canalizar energias de ambos os lados. Felizmente ou infelizmente todo o país acabou por ser vítima dos mesmos males e aquilo que nos dividia também se tornou obsoleto.
Mas os criadores do ódio não pararam. E vai daí ressuscitaram velhos ódios e instalou-se uma guerra entre ser espanhol (basco) e ser português. Fomentou-se uma crise de xenofobia inexistente que explicasse a perda de poder de uns em detrimento de outros. Jornais, o Telelixo e os seus capangas, criam neste mês de Maria, um “Jesus” maldito e um Barrabás que ninguém conhece, merecedor da salvação eterna.

Para quando uma Padeira de Aljubarrota que coloque de novo tudo no seu lugar?

   

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