Senhor
Cardeal–Patriarca de Lisboa
D. Manuel
Clemente
Excelência:
Dizem-me
que V. Exª é um seguidor entusiasta da humildade e do humanismo, duas vertentes
mais em evidência nas atitudes e ensinamentos do Papa Francisco.
Eu não sou
ninguém, senão uma pessoa que procura estar atenta aos sinais que vão surgindo
em busca da humanidade nas relações com os outros.
Conheci V.
Exª quando fui professor em Torres Vedras. Fiquei contente por ter sido
escolhido para Bispo da Diocese em que se inclui a cidade de onde sou natural,
Peniche.
A minha
terra foi bafejada com a sorte de ter tido durante largos anos como Pároco
um dos homens mais maravilhosos que conheci ao longo dos meus já muitos anos
de vida. Foi também esta terra escolhida durante largos períodos de tempo para
refúgio de férias de um seu antecessor D. António Ribeiro, intelectual que
sempre escutei atentamente. E agora também um Homem do Oeste de onde sou nado e
criado é nomeado Bispo e Cardeal-Patriarca.
Isso
aproxima-nos e a sua função liberta-me para me poder dirigir a si com o
à-vontade com que aqui me apresento.
Gosto da
sua iniciativa de pensar as comunidades como lugar por excelência para
aproximar a Humanidade. Não falo da sua aproximação a Deus, porque sendo
agnóstico julgo que se o Homem tiver Fé e agir com Amor e Alegria
inevitavelmente atingirá os objectivos que a sua Fé determinar.
Se lhe
escrevo é porque penso que seria bom V/ Eminência ficar atento aos sinais que demoram
a tornarem-se evidentes na sua diocese e muito particularmente na terra que me viu
nascer.
Dirá: “-
Mas tu és agnóstico, em que é que isso te preocupa?” E eu respondo-lhe que
quando a maioria de um povo que professa uma religião, em palavras e obras se
manifesta solidário com a comunidade em que se insere, é um bom sinal para
relacionamentos em que todos temos a ganhar.
Não falo do
intervalo de tempo entre a morte espiritual do Padre Bastos e os dias de hoje.
Falo do que
aqui vai acontecendo agora.
Falo do
património da paróquia a ser vendido sem que ao menos através do seu Jornal
sejam explicadas as razões de tal facto. O Padre Bastos foi a formiga, vem
alguém que não conhecemos de qualquer lado e armado em cigarra vende bens
acumulados que gerações de penicheiros ajudaram a preservar se isto em qualquer
explicação pública.
E não se
diga que eu não posso colocar isto em causa por não ser católico praticante e
me assumir como agnóstico. Eu também contribui para a preservação do património
da paróquia. Recuso-me a aduzir outras razões de que aqui poderia falar, porque
definitivamente não quero que a minha mão esquerda saiba do que a mão direita
pode privilegiar. E isto ao mesmo tempo em que o pároco local se pavoneia nas
procissões com vestes que simulam uma ostentação de riqueza, que nos dias que
correm só pode ser encarado como uma provocação.« Que digam de ti quando vais a
passar, ali vai um cristão».
Falo da
atitude de desprezo com que muitos são tratados por recusa do pároco em
encomendar os corpos dos seus paroquianos na Casa Mortuária Municipal, que foi
construída porque a que estava em utilização estava imprópria e agora, um
investimento de muitos milhares é deixado em desuso porque o padre não quer
perder os 45 euros do aluguer de um espaço da igreja com piores condições. Também Judas Escariotes se vendeu por um punhado de moedas e acabou como objecto de escárnio e de desprezo dos que em Cristo acreditavam. Mas isso já são outros contos e ao que parece caiu em desuso citar trechos bíblicos do Novo Testamento.
Não quero
tornar muito mais extensa esta minha carta para V. Reverª. O que lhe deixo já
lhe dará matéria para pensar se se quiser preocupar. E deve. Alguém ao decidir
sobre determinadas matérias só o deverá fazer se não suscitar escândalo ou
revoltas públicas. E isso só se consegue fazendo uma explicação metódica e
detalhada sobre o que a todos envolve. Outra atitude é prepotência.
“A Caridade
Divina em S. Tomás de Aquino” só me dirá alguma coisa se ela se reflectir nos
outros permanentemente como uma imagem de marca de quem nela acredita. «Que não
ganhes o respeito de uns quantos se perderes todos os que juraste defender».
E mais não
digo.
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