terça-feira, janeiro 24, 2017


PAÍS...

País de azulejos partidos

de erva trepando entre paredes em ruína

País entrgue à sua sina

sem olhos e sem ouvidos

 

País voraz ruminando o almoço

rindo ou chorando incapaz de sorrir

País de corpo aberto a quem está a seguir

País do rastejar entre a pele e o osso

 

Pulinhos para trás e para a frente

de polegar na cava do colete

foguetes procissões uns copos de palhete

país da pequenez de si mesma contente

 

País indiferente aos que dão por ele a vida

País herói se não há perigo em sê-lo

País de velhos do Restelo

dando à mão baixa perto e consentida

 

País que tudo quer e nada quer tudo suporta

País do faz como vires fazer

País do quero lá saber

do quem vier depois que feche a porta

                        Mário Dionísio

                                   In “Terceira Idade”, 1982

 

Sem comentários: