terça-feira, agosto 14, 2018


E HOJE HÁ FADOS…

Nos últimos anos convencionou-se na cidade de Peniche, apresentar nas escadarias de S. Pedro um grupo restrito de cantores de fado amadores.

Dedilham-se guitarras e canta-se. Sendo um local de passagem obrigatória para os passeios noturnos e com o trânsito cortado na zona, com facilidade se juntam ali algumas centenas de pessoas que ouvem, aplaudem e interiorizam ou não o que veem e ouvem.

De canção fascista e machista até se travestir em Património Imaterial da Humanidade foi longo o caminho que o fado percorreu. Recordo que na Húmus vão lá 50 e tal anos na secção de discos o único fado possível de encontrar seria o Fado de Coimbra. O Fado de Lisboa existia para se ouvir ou em algumas rádios ou em vitrolas que existiam em cafés e onde imperava o Fernando Farinha.

Mas o Fado pertencia e era assumido pela alma popular. E tanto servia para o ceguinho cantar à porta da praça onde vendia os folhetos com letras de fazer chorar as paredes, como era cantado em salões de nobres e em salas de concerto em que a nossa diva brilhava como poucos.

Lavava-se a roupa nos pocinhos e cantava-se o fado. Fazia-se renda de bilros e cantava-se o fado. Caiavam-se as paredes das casas no Fialho e cantava-se o fado. Regressava-se a casa vindo das fábricas de conserva ou das lojas de peixe na ribeira e cantava-se o fado. Levava-se pancada dos maridos já bêbados e cantava-se o “maldito” fado. Passava-se fome e cantava-se o fado.

O fado foi amor. Estado de espírito e sentir das gentes. Hoje já não será nada disto. Será outra coisa que me é difícil perceber muitas vezes.

Enquanto coloco este texto na net, vou ouvir a Amália em “fados 67”.   

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