E HOJE HÁ
FADOS…
Nos últimos
anos convencionou-se na cidade de Peniche, apresentar nas escadarias de S.
Pedro um grupo restrito de cantores de fado amadores.
Dedilham-se
guitarras e canta-se. Sendo um local de passagem obrigatória para os passeios
noturnos e com o trânsito cortado na zona, com facilidade se juntam ali algumas
centenas de pessoas que ouvem, aplaudem e interiorizam ou não o que veem e
ouvem.
De canção
fascista e machista até se travestir em Património Imaterial da Humanidade foi
longo o caminho que o fado percorreu. Recordo que na Húmus vão lá 50 e tal anos
na secção de discos o único fado possível de encontrar seria o Fado de Coimbra.
O Fado de Lisboa existia para se ouvir ou em algumas rádios ou em vitrolas que
existiam em cafés e onde imperava o Fernando Farinha.
Mas o Fado
pertencia e era assumido pela alma popular. E tanto servia para o ceguinho
cantar à porta da praça onde vendia os folhetos com letras de fazer chorar as
paredes, como era cantado em salões de nobres e em salas de concerto em que a
nossa diva brilhava como poucos.
Lavava-se a
roupa nos pocinhos e cantava-se o fado. Fazia-se renda de bilros e cantava-se o
fado. Caiavam-se as paredes das casas no Fialho e cantava-se o fado.
Regressava-se a casa vindo das fábricas de conserva ou das lojas de peixe na
ribeira e cantava-se o fado. Levava-se pancada dos maridos já bêbados e
cantava-se o “maldito” fado. Passava-se fome e cantava-se o fado.
O fado foi
amor. Estado de espírito e sentir das gentes. Hoje já não será nada disto. Será
outra coisa que me é difícil perceber muitas vezes.
Enquanto
coloco este texto na net, vou ouvir a Amália em “fados 67”.
Sem comentários:
Enviar um comentário