quinta-feira, agosto 09, 2018


ZÉ ROSA: O MELHOR DE TODOS NÓS
Conheci o Zé Rosa nos idos 50/60 do século passado. Eu um menino estudante e muito empertigado e cheio das ideias que iriam colocar Peniche no mapa e fazer de Portugal um país de Liberdade. O Zé Rosa era a calma personificada mas isso não significava falta de determinação e de convicções. O Zé Rosa foi o amigo certo em horas difíceis. E foi o Homem que temperou a nossa intransigência juvenil. Ele foi a alma do CICARP e ver hoje os agentes funerários que trataram do funeral do cineclube que ele tanto amava a assistirem ao teu sepultamento, continua a ser difícil para mim de digerir.
O Zé Rosa era um Homem de ideais que manteve até ao fim da sua vida. Desaparecido o CICARP embarcou na aventura da HÚMUS com a mesma paixão e empenhamento que sempre nortearam o seu caminho. O Zé Rosa era um Homem de ideais e manteve-se sempre fiel a eles. Nem quando a PIDE lhe entrava casa dentro. Nem quando ostensivamente se colocavam ao seu lado para ouvirem o que dizia e reproduzirem em relatórios obscenos o que nunca perceberam, porque princípios e sonhos eram assunto que nunca perceberam.
Enquanto isto, o Zé ía escrevinhando os seus apontamentos para os livros que queria escrever, deixando dessa forma o seu legado para as gerações futuras.
É assim que surge ainda em 1964 “Mar e Homens” que comprei numa livraria hoje inexistente em Peniche, a “Livraria Cerdeira”. Surge depois ainda antes do 25 de Abril “À Face do Mar”. Em 1975 publica “Moisés o Negro” a que se seguem em 1977 “O Advogado” e a “Mulher Deitada”. Publica ainda entretanto “Inquérito ao Mar” e “Enquanto se Espera” em 1979. Em 1980 vê a luz “O Casal Desavindo” e em 2006 “O País do Mar”. Nestes livros desenvolve o conto, o romance e o Teatro. E uma constante em todos eles, o Mar, os pescadores, as suas mulheres e os seus filhos e filhas.
Sem mendigar apoios, nunca se aproveitando dos amigos que as suas relações ímpares geraram o Zé foi-nos entregando uma parte importante da História de Peniche, sem bajulices, nem salamaleques.
Os seus livros foram surgindo como ele próprio. Sem se dar por eles. Éramos um grupo fabuloso: o Desejável, o Adelino Leitão, o Zé Rosa, o Carlos Mota, eu próprio, o Delgado, e mais os que se foram juntando a nós (estou a pensar nos mais velhos) e todos os que sempre nos apoiaram. Restamos poucos. Que este já longo epitáfio permita que nos percebam. Pelo que fomos. Pelo que lutámos. Por aquilo em que acreditámos e que se hoje não permitiu viver a Utupia pelo menos permitiu que víssemos a luz ao fundo do túnel.                

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