ZÉ ROSA: O MELHOR DE TODOS NÓS
Conheci o
Zé Rosa nos idos 50/60 do século passado. Eu um menino estudante e muito
empertigado e cheio das ideias que iriam colocar Peniche no mapa e fazer de
Portugal um país de Liberdade. O Zé Rosa era a calma personificada mas isso não
significava falta de determinação e de convicções. O Zé Rosa foi o amigo certo
em horas difíceis. E foi o Homem que temperou a nossa intransigência juvenil.
Ele foi a alma do CICARP e ver hoje os agentes funerários que trataram do
funeral do cineclube que ele tanto amava a assistirem ao teu sepultamento,
continua a ser difícil para mim de digerir.
O Zé Rosa
era um Homem de ideais que manteve até ao fim da sua vida. Desaparecido o
CICARP embarcou na aventura da HÚMUS com a mesma paixão e empenhamento que
sempre nortearam o seu caminho. O Zé Rosa era um Homem de ideais e manteve-se
sempre fiel a eles. Nem quando a PIDE lhe entrava casa dentro. Nem quando
ostensivamente se colocavam ao seu lado para ouvirem o que dizia e reproduzirem
em relatórios obscenos o que nunca perceberam, porque princípios e sonhos eram
assunto que nunca perceberam.
Enquanto
isto, o Zé ía escrevinhando os seus apontamentos para os livros que queria escrever,
deixando dessa forma o seu legado para as gerações futuras.
É assim que
surge ainda em 1964 “Mar e Homens” que comprei numa livraria hoje inexistente em
Peniche, a “Livraria Cerdeira”. Surge
depois ainda antes do 25 de Abril “À Face do Mar”. Em 1975 publica “Moisés
o Negro” a que se seguem em 1977 “O Advogado” e a “Mulher
Deitada”. Publica ainda entretanto “Inquérito ao Mar” e “Enquanto
se Espera” em 1979. Em 1980 vê a luz “O Casal Desavindo” e em
2006 “O
País do Mar”. Nestes livros desenvolve o conto, o romance e o Teatro. E
uma constante em todos eles, o Mar, os pescadores, as suas mulheres e os seus
filhos e filhas.
Sem
mendigar apoios, nunca se aproveitando dos amigos que as suas relações ímpares geraram
o Zé foi-nos entregando uma parte importante da História de Peniche, sem
bajulices, nem salamaleques.
Os seus livros
foram surgindo como ele próprio. Sem se dar por eles. Éramos um grupo fabuloso:
o Desejável, o Adelino Leitão, o Zé Rosa, o Carlos Mota, eu próprio, o Delgado,
e mais os que se foram juntando a nós (estou a pensar nos mais velhos) e todos
os que sempre nos apoiaram. Restamos poucos. Que este já longo epitáfio permita
que nos percebam. Pelo que fomos. Pelo que lutámos. Por aquilo em que
acreditámos e que se hoje não permitiu viver a Utupia pelo menos permitiu que víssemos
a luz ao fundo do túnel.
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