sábado, março 17, 2007

O PRINCIPAL E O ACESSÓRIO

A propósito da minha última postagem, regressei aos idos de 60. Em Maio de 1962, adquiri em Peniche na já desaparecida Livraria Cerdeira, um livro da colecção “Divulgação e Ensaio” da “Editorial Presença” que ainda hoje é um dos meus 10 mais. Refiro-me a “O EXESTENCIALISMO É UM HUMANISMO” do Jean-Paul Sartre. Este livro com mais uns 3 ou 4 tem a sua quota parte na responsabilidade da minha formação e evolução como homem de esquerda. Na altura eu estava a estudar há pouco mais de um ano em Lisboa. Irra que já lá vão 45 anos!!! Eu aproveitava então todas as oportunidades para ouvir em debates e colóquios organizados pelas mais diversas faculdades, as pessoas que hoje fazem parte do nosso imaginário colectivo. Refiro-me ao Jorge Sampaio (na altura Dirigente Associativo), ao Sotto Mayor Cardia, ao Virgílio Ferreira, ao Fernando Namora, e a tantos e tantos outros. Num desses encontros associativos, falando com alguém sobre como este livro me tinha perturbado, dizia-me essa pessoa que eu já não sei precisar quem foi: “- E leste o Prefácio? É do Virgílio Ferreira. Olha que em minha opinião é mais importante o que lá está, do que propriamente o que está no livro.” Fui para casa e pus-me a ler de uma assentado o que me foi recomendado. Digo-vos que se abriu em mim uma porta fantástica de clareza que nunca mais se encerrou. A partir desse momento os livros de Virgílio Ferreira durante muitos anos tornaram-se de leitura obrigatória.
Vem isto a propósito do que escrevi sobre a o “Restaurante “NAU DOS CORVOS” e um dos comentários que lá aparece. Refiro-me ao que o Hélder Blayer enviou com um conjunto de sugestões sobre o que aquele espaço poderia (deveria) comportar e que não resisto a re-publicar, dada a sua importância, bem mais pertinente do que a sugestão de demolição pura e simples que eu deixei:
“...andas-te a comprometer com votos por coisa tão pouca?. Bom, todo o meu discurso que se segue, será feito sem grande conhecimento da realidade actual da coisa, mas mesmo assim, arrisco: Deixem-se de interesses economicistas. Entreguem o espaço, mas com condições bem definidas, a cumprir. Exemplos e sugestões: A zona emquestão sem dúvida alguma, a melhor da cidade para observação de estrelas, astros e afins. Peniche tem muitos dias nublados? Tem. Mas tem outros muitos dias com excelentes condições para essa prática de observação que muita gente gosta. De dia, há possibilidade de observar um movimento marí­timo digno de registo. Há quem pague para ter acesso a isso. A Berlenga está perto: ofereçam-se condições para observação dailha. Crie-se um Centro Interpretativo Ambiental. Bela localização para ter um. Restaurante? Às tantas... Valência de bar, sem dúvida. Espaço cultural, porque não? E porque não juntar isto tudo? Nos Açores observam-se baleias e golfinhos. Já observei (infelizmente) na noite escura, um navio encalhado entre o cabo e a Nau dos Corvos. Há gente que paga para fotografar aviões. Outros existem que não se importam de pagarpara, com equipamento não muito caro, observar movimento marí­timo e uma ilha excelente a poucas milhas. Tudo, obviamente, acompanhado com informação credí­vel, do espaço, da sua história, da história da própria cidade, mas não da forma que sempre se faz: o folheto inerte. Há tanta tecnologia à disposição e tanto programa governamental e europeu com dinheiro para tais iniciativas. Entreguem o espaço a uma associação que se comprometa a fazer alguma coisa de jeito, nesse espaço. E que tal umbar decente ou discoteca, a funcionar durante a noite? Incomodava algum morador? Nem o hotel fantasma iria levar a mal. Aproveitem o bom que têm. Há tanta coisa que se podia fazer naquele espaço...A própria ESTM, que tanto queria envolver-se com a comunidade em que está inserida, não consegue interagir com a sociedade penichense? A Câmara, não tem capacidade para pensar e idealizar o que quer dali, sendo que poderia dar apoios e ajudar quem tivesse capacidade a ir buscar mais alguns, para se fazer daquele, um espaço nobre do concelho? Quando falo em nobre, não falo de pseudo-VIPs. Falo de projectos e ideias capazes de proporcionar a quem visita aqueleespaço, algo de diferente...”
Merece a pena meditar neste conjunto de propostas. Ou será que 50 anos depois não conseguimos dar melhor aplicação às coisas, do que aquilo que a Acção Nacional fez? A CDU não consegue fazer diferente e melhor que a União Nacional que Deus haja?
Penso que merece a pena repensar as coisas. Ou daqui a algum tempo não haverá quem acredite que mereceu a pena a mudança...

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