quarta-feira, abril 04, 2007

MARIA CAETANA ROSA LUIZ
Ao receber a última "Voz do Mar" fui surpreendida com a morte da D. Maria, nome pelo qual sempre a conheci. Em jeito de homenagem deixo aqui o meu testemunho pela Mulher que tive a honra de conhecer, poder admirar e que acabou por se tornar uma minha amiga e da minha família.

D. Maria : A mulher Coragem

Conheci pessoas fantásticas enquanto estive na Câmara. Mas a D. Maria é um caso à parte. Curiosamente nem sequer sei o seu apelido. A D. Maria mora na Carqueja. É uma das localidades do nosso Concelho que é atravessada pela fronteira invisível que separa Peniche e Lourinhã.
A D. Maria não sabe ler nem escrever. É uma espécie de regedora da sua localidade. Não há assunto que escape à sua argúcia ou à sua tenacidade e empenho. È uma matriarca na verdadeira acepção da palavra. À sua volta juntam-se amigos e vizinhos, família e mesmo os que não gostam dela têm o cuidado de não levar as coisas longe demais.
A D. Maria é uma mulher de armas. Uma padeira de Aljubarrota. Mulher de condição modesta na sua essência, luta pelas coisas em que acredita como ninguém. A Associação é a sua menina dos olhos. O nicho do Santo Padroeiro no Largo da aldeia, o seu sorriso. O caminho de acesso à localidade, o seu maior pesadelo.
A casa da D. Maria è um regresso aos nossos sonhos de criança. A típica casa de campo de há muitos anos atrás. As alfaias agrícolas, as capoeiras com as galinhas, os coelhos, os netos e netas. Os filhos à sua volta. Ali à vida. Aquela vida que já não se encontra nas nossas cidades e vilas. Ali, em casa da D. Maria não entrou a Comunidade Europeia. As pevides ainda são pevides e a fruta sabe a fruta. Ali os porcos são tratados como se fossem pessoas da família e, mesmo no dia em que um terá a honra de ser sacrificado, tem direito a uma conversa especial para não se assustar no momento do fado se cumprir.
A D. Maria não aspira a cargos públicos ou políticos. Só quer ser útil à comunidade em que vive e tem um grande amor pela sua aldeia. Para poder vir a Peniche tem de fazer longas caminhadas a pé, porque os transportes públicos não chegam lá.
A D. Maria quando fala é para ser ouvida com respeito e atenção. Não merece a pena dizer que sim só por dizer. Quando se diz que sim mais vale fazer. Porque não nos livramos dela enquanto o sim não tiver um ponto final.
Foi para mim uma honra ter conhecido a D. Maria. E a sua família. E os seus amigos e amigas. Adorei os ovos das suas galinhas. Eu, a minha mulher e a minha filha ficámos com uma dívida de gratidão para consigo. Pelo exemplo de humanismo que nos deu. Pela determinação que nos ensinou. Até sempre D. Maria. Mulher grande do meu concelho. Mulher coragem.

1 comentário:

Unknown disse...

A D. Maria da Carqueja morreu?
Lá se foi uma valente mulher.