PEIXE SECOfotos de H. Blayer Quando embarquei para a Guiné-Bissau como cooperante em Dezembro de 1975, levava comigo duas imagens: a de um País que eu achava que tinha perdido a Liberdade alguns dias antes em 25 de Novembro, e a de um jantar de despedida com os meus amigos do MDP/CDE e do PCP no antigo restaurante do Romeu, onde hoje se situa o Bar Nº 1. Ainda hoje conservo na arca das minhas memórias um galhardete do PC, assinado por todos os presentes entre os quais o Aleixo, o Balde d’ Água, o Álvaro Zé, o Ivo e tantos, tantos outros... Uma vez na Guiné, as memórias do meu passado penicheiro assaltavam-me amiúde trazendo-me cheiros, sabores e imagens que me tornavam mais fácil a minha estadia naquele país para onde tinha decidido dar a minha participação militante. Um dia estava eu numa esplanada gozando com outros cooperantes o fim de tarde de Bissau, vejo passar um penicheiro daqueles que fazem dos barcos de tráfego internacional uma eterna Diáspora. Demos um daqueles abraços bem puxados e logo ali combinámos para dois meses depois um novo reencontro para quando ele regressasse a Bissau com novo carregamento. Ficou assente ele ir a casa dos meus pais buscar o que eu entretanto escrevesse a pedir e um jantar no Pidjiguitti onde eu residia. O meu embaraço inicial era o que pedir à minha mãe para enviar. Rápido conclui. Queria peixe seco. Carapaus e “arraia”. Para cozer com batatas com pele e cebola e comer uma parte de “molhinho”, e outra parte com azeite e vinagre. Alguns amigos cooperantes mais chegados, o Ministro Vasco Cabral que tinha estado preso em Peniche com o Mário de Andrade, a mulher a Luisa Cabral lisboeta de Alcântara, a Taurina Zuzarte médica, cooperante como eu e uma amiga fantástica, seriam os meus convidados para aqueles sabores de Peniche.
Foi dia de Peniche em Bissau. Que recordo para toda a minha vida. E não há vez em que coma carapaus ou arraia seca, que não me recorde desse almoço em África.
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