quarta-feira, agosto 29, 2007

CÂMARA CLARA
Roubei o título desta crónica a Roland Barthes. Ninguém como ele definiu para mim o valor da fotografia de forma tão intensa.Quando passei e vi esta rua, passaram por mim naqueles fugazes instantes mil perplexidades. Desde logo a luz. Intensa no seu contraste com a sombra que irradia. Depois a figura difusa escondida no chapéu. Uma dolorosa imagem que se perde no fim de tarde. Sou só eu e aquela rua.
Por último (mas o mais importante) aquela folha de papel. Uma mancha desnecessária na limpeza da rua. Vejo o asfalto limpo, asseado, sem mácula. E só aquela mancha branca inverte valores sujando o negro da rua. O claro-escuro. O preto e o branco. O positivo e o negativo. Perdem aqui o significado primeiro, tornando-se na sua forma última o objectivo definitivo da câmara.

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