terça-feira, maio 25, 2010

A POUSADA DA FORTALEZA
(notícia da LUSA)O arquitecto Álvaro Siza Vieira disse hoje (Domingo) em Peniche ter sido afastado pela Enatur do projecto de transformação da Fortaleza de Peniche em pousada, por discordar da duplicação do número de quartos pretendida pelos promotores.
“Fui afastado do trabalho”, afirmou Siza Vieira, durante uma conferência sobre “a memória” promovida pela câmara de Peniche na Fortaleza.
O arquitecto explicou que, quando da entrada do Grupo Pestana na administração na rede de Pousadas de Portugal, com a privatização da Enatur, em 2003, foi afastado do trabalho por discordar da intenção de criar uma pousada com mais do dobro dos 30 quartos que previa o projecto de arquitectura que elaborou para o espaço e que disse que “não está ainda pago”.
“A duplicação do número de quartos implicava a criação de mais dois pisos, projectei o hotel para ter a mesma altura da fortaleza, por isso aumentar o número de pisos seria uma monstruosidade”, disse.
Contactados pela Lusa, nem a Enatur nem o Grupo Pestana prestaram esclarecimentos sobre o ponto de situação do projecto.
O arquitecto alertou para as “pressões” que vão surgir quanto ao “aumento da volumetria” e “de privatização do espaço”, caso o projecto da pousada se mantiver.
Álvaro Siza Vieira disse ainda que um hotel “não é solução” para reabilitar o património da Fortaleza de Peniche, tendo em conta as “dúvidas” que tem sobre a compatibilização do projecto com a necessidade de preservar a memória história do espaço, que serviu como antiga prisão política.
“Não é uma coisa que se faça de ânimo leve”, sublinhou.
O presidente da câmara de Peniche, António José Correia (CDU), revelou que a autarquia deu um prazo “até Junho” ao Grupo Pestana para apresentar o projecto de viabilidade, que passa por criar 70 quartos na futura pousada para tornar o investimento rentável.
“Se até Agosto não for apresentado o projecto de viabilidade, tomaremos uma decisão”, acrescentou o autarca, que pretende clarificar “em definitivo” o futuro a dar à Fortaleza.
António José Correia recordou que a autarquia concordou em 1999 com a futura pousada por envolver o arquitecto Siza Vieira, cujo projecto compatibilizava a preservação do património histórico, mantendo intacta a memória e os espaços associados às fugas políticas.
“Se o projecto não corresponder a este conjunto de condições não aceitaremos o desafio”, disse.
A fortaleza, em estado de parcial degradação, foi construída no século XVII sobre rochedos em frente ao mar, para defesa da costa, vindo ao longo do tempo a perder interesse do ponto de vista militar, até que, na década de 30 do século XX, foi transformada em prisão política.
À excepção de 15 celas, ocupadas por artistas locais que as transformaram em ateliers, a zona de recreio dos presos (Páteo da Cisterna) e os outros dois pavilhões de dois e três pisos, com mais de 50 celas, estão degradados.
A reabilitação patrimonial da Fortaleza de Peniche tem sido uma preocupação da autarquia e está englobada no Plano de Acção do Oeste assinado entre o Governo e os municípios do Oeste após a deslocalização do aeroporto da Ota, já depois do protocolo assinado com a Enatur para a transformação da Fortaleza em pousada.

1 comentário:

Bento Gonçalves disse...

E as chamadas "forças vivas" de Peniche, onde andam?
Onde andam os empresários e os empreendedores da terra?
Será que se fossem proprietários dos terrenos da Fortaleza, já teriam vindo a terreiro exigir que as coisas se mexessem?
Ou será que as únicas iniciativas que exigem são a abertura de Supermercados, onde os filhos do Povo irão ser explorados a receber o Salário Minimo?
Não deixa de ser curioso que o tecido empresarial de Peniche apenas se manifeste para apoiar projectos que involvam requalificações de terrenos, lucro rápido para alguns e exploração para os de sempre.

Salvem-nos destes "Patos-Bravos" e seremos salvos!