terça-feira, outubro 12, 2010

PADRE BASTOS. – MEU AMIGO!
Digo-te amigo e sinto-o. Fazes parte do meu imaginário. E da minha construção como pessoa. Foste meu professor, confessor, amigo e confidente. Travámos longas batalhas intelectuais respeitando-nos sempre. Apetece-me falar de ti. Num tempo em que as coisas e as pessoas parecem apostadas em esquecer o que é importante refugiando-se no acessório, sabe bem recorrer à ideia que tenho de ti. Há poucos dias reli alguma da tua correspondência.
Estou a juntá-la toda para a ter à mão quando precisar de ti. Evoco-te com o mesmo carinho com que evoco os meus melhores amigos e o meu pai. Não tenho pena de teres partido. Era inevitável. Como eras meu amigo é fácil recordar-te e falar contigo ou com o que resta de ti. A minha memória.
Se acreditasse na vida para além da morte, tornar-me-ia médium. Para poder discutir umas coisas contigo. Assim discuto comigo próprio e vivo velho. Na busca incessante de pedaços da minha memória de ti fui encontrar no espólio fotográfico dos meus avós uma foto do ano em que chegaste a Peniche. 1947.Eras então um jovem Padre à procura do seu caminho. Cedo o começarias a trilhar conferindo a Peniche e às suas gentes uma nova esperança. Deste-nos confiança e tudo fizeste para podermos acreditar em nós e na nossa capacidade de sermos solidários.
Tinhas dois grandes defeitos (?), chamavas os “bois pelos nomes” e confiavas para além do seria razoável naqueles de quem gostavas. Mas não é assim que somos todos nós?
Mais vezes te irei retomar aqui. Sempre que me apetecer. Sempre que precise de ti.

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