terça-feira, outubro 11, 2011

MUDAR DE VIDA

Quem me conhece sabe que sou muito penicheirão a falar. Na tropa no comando de pelotões fui desenvolvendo os exercícios vocais que haveriam de me tornar imbatível em questões de tom de voz. Depois foi o desenvolvimento da minha actividade como docente. As actividades políticas em vez de me tornarem mais moderado, fizeram redobrar as minhas capacidades em me fazer ouvir.
Às tantas essa capacidade de me fazer ouvir à distância veio a manter-se mesmo em conversas privadas. Isto é, comigo deixaram de haver segredos de estado. Quem me conhece sabe que sou assim. Se a conversa me interessa e o interlocutor é motivante esqueço-me de tudo e lá começo eu a falar em tons de voz que dá para encher um estádio de futebol. Sou um trovão. Isto tem vantagens e desvantagens. A principal vantagem é que falando assim toda a gente sabe o que estou a dizer. Não dá para inventar. A principal desvantagem é que aborreço de forma lapidar os que não me conhecem e que se sentem incomodados e alguns que me conhecendo, não gostam do espectáculo gratuito que eu ofereço a quem vai passando.
Aos primeiros explico-lhes que sou naturalmente assim. Aos segundos passo a evitá-los.
Assim foi um destes dias em que tendo ido à Associação buscar a minha mulher à hora de saída dela, encontrei um amigo que não via há muito tempo. Ele até foi meu aluno e posteriormente meu colega de profissão. Foi inevitável falarmos de Educação. E porque eu tenho uma visão muito minha do que tem acontecido nas Escolas e com elas, a conversa entre mim e o meu amigo foi-se desenvolvendo e à medida que se desenvolvia eu ia-me apaixonando com o que dizia e ouvia e vocês adivinham o resto. Até que o meu amigo me diz que estava a sentir incomodado pelo tom de voz que eu usava. Quem passasse iria pensar que eu estava a ralhar com ele.
Foi a minha vez de me sentir incomodado. Se ele me dissesse para eu falar mais calmo, eu teria percebido. Agora por aquilo que os outros pudessem pensar… Isso deixou-me abalado nos alicerces daquilo que eu pensava ser o que ele conhecia de mim e das minhas características específicas. Respondi-lhe que não o incomodaria mais e acabei ali uma conversa e com ela uma amizade que eu pensaria ser mais consistente. O que se passa é que eu estou na recta descendente. Já não tenho nem tempo nem querer para mudar de vida ou de atitudes. Deixei-me seduzir pelo que gosto e cortei com o que me aborrece. Quero terminar o tempo de vida de que disponho com quem ou com aquilo que me faz sentir bem. O resto já era.

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