sexta-feira, fevereiro 01, 2013

NA HORA DA REFORMA
Inúmeros amigos meus que se têm vindo a reformar, a breve trecho despedem-se inesperadamente de todos nós e partem para a terra do NUNCA mais. Isso acontece muitas vezes após peripécias que têm muito em comum e que na maioria das vezes coincidem com o relato que vos vou fazer:

O meu tio Tóino estava bem de saúde, até que s sua mulher, minha tia Lurdinhas, a pedido da sua filha, minha prima Ninita, disse:

-Tóino, você vai fazer 70 anos, está na hora de fazer um check-up com o médico.

- Para quê, se me estou sentindo muito bem!

-Porque a prevenção deve ser feito agora, quando você ainda se sente jovem, disse minha tia.

Então meu tio Tóino foi ver um médico. O médico, sabiamente, mandou-o fazer testes e análises de tudo o que poderia ser feito e que o plano de saúde cobrisse.
Duas semanas mais tarde, o médico disse que os resultados estavam muito bons, mas tinha algumas coisas que podiam melhorar. E receitou:

Comprimidos Atorvastatina para o colesterol
Losartan para o coração e hipertensão,
Metformina para evitar diabetes,
Polivitaminas para aumentar as defesas.
Norvastatina para a pressão,
Desloratadina em alergia.

Como eram muitos medicamentos, tinha que proteger o estômago, então ele indicou Omeprazol e um diurético para os inchaços.

Meu tio Tóino foi à farmácia e gastou boa parte da sua aposentadoria em várias caixas requintadas de cores sortidas.
Nessas alturas, como ele não conseguia se lembrar se os comprimidos verdes para a alergia deviam ser tomadas antes ou depois das cápsulas para o estômago e se devia tomar as amarelas para o coração antes ou depois das refeições, voltou ao médico. Este lhe deu uma caixinha com várias divisões, mas achou que titio estava tenso e algo contrariado. Receitou-lhe, então:

Alprazolam e Sucedal para dormir.

Naquela tarde, quando ele entrou na farmácia com as receitas, o farmacêutico e seus funcionários fizeram uma fila dupla para ele passar através do meio, enquanto eles aplaudiam.
Meu tio, em vez de melhorar, foi piorando.
Ele tinha todos os remédios num armário da cozinha e quase já não saia mais de casa, porque passava praticamente todo o dia a tomar as pílulas.
Dias depois, o laboratório fabricante de vários dos remédios que ele usava, deu-lhe um cartão de “Cliente Preferencial”, um termômetro, um frasco estéril para análise de urina e lápis com o logotipo da farmácia.
Meu tio teve azar e ao passar junto de uma janela aberta apanhou uma constipação. Minha tia Marocas, como de costume, fez ele ir para a cama, mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o médico.
Ele disse que não era nada, mas prescreveu:

Tapsin para tomar durante o dia e
Sanigrip com Efedrina para tomar à noite. Como estava com uma pequena taquicardia, receitou:
Atenolol e um antibiótico, 1 g de Amoxicilina. A cada 12 horas, durante 10 días. Apareceram fungos e herpes, e ele receitou Fluconol com Zovirax.

Para piorar a situação, o tio Tóino começou a ler as bulas de todos os medicamentos que tomava, e ele ficou sabendo todas as contra-indicações, advertências, precauções, reações adversas, efeitos colaterais e interacções médicas.

Leu coisas terríveis. Não só poderia morrer mas poderia ter também arritmias ventriculares, sangramento anormal, náuseas, hipertensão, insuficiência renal, paralisia, cólicas abdominais, alterações do estado mental e um monte de coisas terríveis.

Com medo de morrer, chamou o médico, que disse para não se preocupar com essas coisas, porque os laboratórios só colocavam para se isentar de culpa.

- Calma, seu Tóino, não fique aflito, disse médico, enquanto prescrevia uma nova receita com

um antidepressivo Sertralina com Rivotril 100 mg. E como o meu tio estava com dor nas articulações deu Diclofenac.

Nessa altura, sempre que o meu tio recebia a aposentadoria, ia direto para a farmácia, onde já tinha sido eleito cliente VIP.
Chegou um momento em que o dia do pobre do meu tio Tóino não tinha horas suficientes para tomar todas as pílulas, portanto, já não dormia, apesar das cápsulas para a insônia que haviam sido prescritas.Ficou tão ruim que um dia, conforme já advertido nas bulas dos remédios, morreu.

No funeral tinha muita gente mas quem mais chorava era o farmacêutico.
Agora a tia Lurdinhas diz que felizmente mandou titio para o médico bem na hora, porque se não, com certeza, ele teria morrido antes.
Este e-mail é dedicado a todos os meus amigos, sejam eles médicos ou pacientes ...
Qualquer semelhança com fatos reais será “pura coincidência”

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