Jaime Nogueira Pinto (um Homem da direita) publicou ontem (13/03/2016) um artigo de opinião com o título em epígrafe, de que eu que me penso um tipo de esquerda gostei particularmente.
Sempre fui da opinião que ninguém pode combater os seus adversários se os não conhecer. Os seus pontos fortes e fracos. Melhor os primeiros, para nos podermos defender e contra-atacar. Julguei que era importante trazer para aqui esse artigo. Por essa e por outras razões que poderia adir.
«O FUTURO DA DIREITA
13 DE MARÇO DE 2016:01:01
Jaime Nogueira Pinto
historiador
A direita governou
Portugal durante mais de quarenta anos com o regime nacional-autoritário de
Salazar. Por isso, embora tenha tido altos custos, foi normal que a esquerda
governasse no ciclo seguinte, em termos de hegemonia ideológica e supremacia
política. Quando falo de direita e de esquerda não falo dos conceitos
maniqueístas vulgarizados (pela "esquerda"), em que a esquerda são os
pobres, os camponeses, as classes trabalhadoras, os intelectuais, os jovens, os
progressistas, os bons; e a direita, os ricos, os lavradores (alentejanos), os
patrões, os capitalistas, os reacionários, os fascistas, os maus da história.
Nem da versão igualmente maniqueísta da "direita", em que a direita
são as classes médias empreendedoras, os empresários, os liberais, os europeístas,
os antifascistas, o "país real" - os bons; e a esquerda os que vivem
de subsídios, os comunistas, os anarquistas, os socialistas, os estatistas, os
totalitários - os maus...O que separa a direita da esquerda tem pouco ou nada
que ver com estas guerras e epítetos de classe ou de renda: são bases
filosóficas distintas como o "pessimismo" e o "otimismo"
antropológicos, isto é, o ponto de partida sobre a natureza humana que
classifica o homem como "naturalmente" bom ou mau. Santo Agostinho,
Maquiavel e Hobbes seriam "de direita" e Rousseau, Marx e Lenine de
esquerda. Se o 25 de Abril de 1974 rejeitou os valores de direita, a verdade é
que as direitas, com exceção das novas gerações, tinham deixado de pensar
politicamente nos últimos anos do Estado Novo. As esquerdas, aproveitando o
descontentamento corporativo dos militares com a guerra de África e a transição
marcelista, impuseram a sua linha a partir do golpe de Abril. A direita
sociológica e até ideológica que sobreviveu, continuou ou recomeçou na política,
teve, partidariamente, de se resignar a alinhar e votar nos partidos do
"centro", no Centrão democrático social ou social-democrático. Os
principais valores da trilogia estadonovista - Deus, Pátria e Família -
desapareceram na voragem antifascista do PREC e na correção política que se lhe
seguiu. Com medo de incorreções, os líderes partidários das direitas foram-se
ficando pelo conservadorismo social-cristão ou por um compromisso de
austeridade social-democrática que os seus inimigos qualificam de liberal ou
ultraliberal ou "de direita" ou "ultradireita". Partindo de
um pessimismo antropológico de base, os valores da direita estão ligados ao
realismo geopolítico, ao nacionalismo político, ao conservadorismo familiar e
social e à economia de mercado. E, numa altura em que a legislação está sujeita
aos caprichos e à chantagem ideológica da esquerda utópica, também aos custos
ocultos das mudanças. Se uma comunidade viveu durante muitos séculos com
valores de orientação como o patriotismo, o enraizamento, a família
tradicional, a propriedade privada, o sentido do transcendente será que se pode
deixar de cultivá-los e acabar com eles sem consequências? A acabar: somos hoje
uma nação dependente, mas o resto do mundo começou a dar a volta: estes valores
(de direita) estão outra vez presentes no Leste europeu, na Ásia, nas Américas.
Portugal, que sob este ciclo político-ideológico decaiu e empobreceu para
limites nunca vistos, poderá nos próximos anos - e até pela terapia de choque
do desastre - estar aberto a um novo ciclo político-ideológico. Às forças
políticas e partidos da não-esquerda compete retomar sem medos as bandeiras da
direita nacional, ou deixá-las abandonadas ou livres, para quem tiver a coragem
e a força de as restaurar. Os dados são estes. Quem os irá lançar?»
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