segunda-feira, maio 30, 2016


I FEIRA DO LIVRO DE PENICHE

Organização do CICARP - Subsidiada pela CMP

1969

Quem ler este título hoje, considerará que raio de acontecimento vulgar é este para poder servir de mote a um post num BLOG.

1969 era o ano a seguir aos acontecimentos em Paris que ditaram uma cooperação entre trabalhares e estudantes que levou à queda do General de Gaulle.

Em Portugal Marcelo caetano tinha ascendido a 1º Ministro por força da incapacidade física de Salazar e defendia com todo empenho o que restava do Estado Novo.

Em Peniche um grupo de jovens e adultos pouco satisfeitos com o muro que se erguia à volta da sua terra, por força dos adeptos do regime que impediam todo e qualquer ar fresco que permitisse uma discussão mais aberta dos acontecimentos culturais e políticos que irradiavam por essa Europa fora, foram criando formas de discussão nos cafés e em Associações que permitissem perceber melhor o que se passava à sua volta.

Criam então como fórum de discussão um Cine Clube, o CICARP (Centro de Iniciação Cinematográfico da Associação Recreativa Penichense), que a pretexto de que o cinema tocava todas as formas de arte, consegue realizar colóquios sobre música, sobre a condição feminina, sobre literatura e que atinge um dos seus corolários na realização da I Feira de Livro de Peniche. Isto em 1969 e com o apoio da Câmara Municipal de Peniche que na altura tinha um Presidente escolhido dos quadros da Acção Nacional Popular, o partido de apoio ao Estado Novo. Por uma questão de justiça refira-se que o Presidente da Câmara da Altura era Victor João Albino de Almeida Baltazar, nosso conterrâneo da Atouguia da Baleia e que viria a ser demitido do cargo em Setembro de 1969.

Não quero referir nomes dos integrantes do CICARP que vieram a meter esta lança em África. Foram muitos e de um trabalho generoso. Jovens e mais velhos. Alguns já conoctados como opositores ao regime, mas muitos outros arriscavam ficar com a sua identidade manchada por serem gente da oposição. E essas coisas nesse tempo pagavam-se caras com o impedimento de exercerem cargos públicos, a cassação de passaporte e outros castigos mais ou menos subtis.

Publico uma foto da época com um grupo de gente que trabalhou arduamente para tornar possível a realização deste evento que à altura parecia inatingível. Alguns deles já desparecidos de entre nós infelizmente, mas que perdurão para sempre na nossa memória.

Para terminar resta dizer que a última grande aventura do CICARP foi a realização de um festival de baladas na Associação com José Afonso, José Carlos Vasconcelos e Adriano Correia de Oliveira, sendo que alguns dias depois foi extinto por determinação da Direcção da altura, presidida por José Fernandes Bento o líder local da ANP.




  

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