I FEIRA DO
LIVRO DE PENICHE
Organização
do CICARP - Subsidiada pela CMP
1969
Quem ler
este título hoje, considerará que raio de acontecimento vulgar é este para
poder servir de mote a um post num BLOG.
1969 era o
ano a seguir aos acontecimentos em Paris que ditaram uma cooperação entre
trabalhares e estudantes que levou à queda do General de Gaulle.
Em Portugal
Marcelo caetano tinha ascendido a 1º Ministro por força da incapacidade física
de Salazar e defendia com todo empenho o que restava do Estado Novo.
Em Peniche
um grupo de jovens e adultos pouco satisfeitos com o muro que se erguia à volta
da sua terra, por força dos adeptos do regime que impediam todo e qualquer ar
fresco que permitisse uma discussão mais aberta dos acontecimentos culturais e
políticos que irradiavam por essa Europa fora, foram criando formas de
discussão nos cafés e em Associações que permitissem perceber melhor o que se
passava à sua volta.
Criam então
como fórum de discussão um Cine Clube, o CICARP (Centro de Iniciação
Cinematográfico da Associação Recreativa Penichense), que a pretexto de que o
cinema tocava todas as formas de arte, consegue realizar colóquios sobre
música, sobre a condição feminina, sobre literatura e que atinge um dos seus
corolários na realização da I Feira de Livro de Peniche. Isto em 1969 e com o
apoio da Câmara Municipal de Peniche que na altura tinha um Presidente
escolhido dos quadros da Acção Nacional Popular, o partido de apoio ao Estado
Novo. Por uma questão de justiça refira-se que o Presidente da Câmara da Altura
era Victor João Albino de Almeida Baltazar, nosso conterrâneo da Atouguia da
Baleia e que viria a ser demitido do cargo em Setembro de 1969.
Não quero
referir nomes dos integrantes do CICARP que vieram a meter esta lança em
África. Foram muitos e de um trabalho generoso. Jovens e mais velhos. Alguns já
conoctados como opositores ao regime, mas muitos outros arriscavam ficar com a
sua identidade manchada por serem gente da oposição. E essas coisas nesse tempo
pagavam-se caras com o impedimento de exercerem cargos públicos, a cassação de
passaporte e outros castigos mais ou menos subtis.
Publico uma
foto da época com um grupo de gente que trabalhou arduamente para tornar
possível a realização deste evento que à altura parecia inatingível. Alguns
deles já desparecidos de entre nós infelizmente, mas que perdurão para sempre
na nossa memória.
Para
terminar resta dizer que a última grande aventura do CICARP foi a realização de
um festival de baladas na Associação com José Afonso, José Carlos Vasconcelos e
Adriano Correia de Oliveira, sendo que alguns dias depois foi extinto por
determinação da Direcção da altura, presidida por José Fernandes Bento o líder
local da ANP.
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