MULHER DA
VIDA
“As línguas, meus caros, são umas bastardas.
Reparem: o português julga que vem do latim, essa
língua imperial, mas nem sempre se lembra que o latim era outro: não
o latim dos intelectuais romanos, mas a língua do padeiro. E do
ferreiro. E da mulher da vida. E do soldado.”
Respinguei do Blog “Certas Palavras” do estudioso da
Língua Portuguesa Marco Neves este pedaço de escrita.
Curto ler o Marco porque ele não puxa galões para si
próprio. Não é rebuscado nem “doutoral”. E o que diz cai como bombas na minha
cabeça deixando-me atordoado. Se me fosse possível recomendaria aos que me
acompanham a leitura deste Blog porque encontram encantos nesta pátria que é a
nossa língua, motivos suficientes para se sentirem felizes com o que dizemos e
ouvimos.
À frente. Vem isto a propósito da expressão que ele
utiliza para definir “prostituta”, que designa por “mulher da vida”. Presumo
que no contexto em que a expressão surge a referência seria a de “mulher de má
vida”: Embora que também aqui seja uma expressão muito pouco real. Até correm várias
histórias no anedotário nacional sobre aquela expressão.
Agora “mulher da vida” era a minha mãe que foi
formadora na área de costurar da tua avó, meu caro Marco. A minha mãe
esforçou-se e trabalhou que nem uma danadinha para dar expressão de dignidade à
educação dos seus filhos. Mulher da vida foi a minha avó. Uma autêntica força
da natureza. Mulheres da vida serão tantas e tentas que em terras de mar ou de
campo, nas cidades ou nas aldeias construíram mundos de Amor. Eu que sou um apaixonado
pela tua avó Leonor há muitos e muitos anos, não posso senão discordar do
contexto em que a expressão mulher da vida é utilizada.
Em
tudo o resto, bem hajas caro Marco por existires. Por seres de Peniche. Por
seres filho e neto de quem és. Por teres as mulheres que tens na tua vida. E já
agora os homens que tens, já que é sabido que atrás de uma grande mulher está
sempre um grande homem.
1 comentário:
Ah, percebo o que quer dizer... Se um dia voltar a publicar o texto noutro formato, hei-de fazer a correcção.
E muito, muito obrigado pelas suas palavras e pela referência a essas duas mulheres da minha vida. Foi uma felicidade ler este artigo. Um grande abraço!
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