quinta-feira, janeiro 10, 2008

A MISSA DAS ALMAS

No início do ano fui, tal como vai acontecendo nos últimos anos, ao Cartório Paroquial marcar as missas por alma dos mortos da minha família. A propósito disso veio-me mais uma vez à memória a minha avó Guilhermina. A tal dos caixões de quem já aqui falei. A minha avó “Baterremos” tinha o tradicional hábito das penicheiras velhas, que era ir à missa das almas a S. Pedro.
Esta missa “rezava-se” às sete horas da manhã. Como a minha avó era muito “caneja” era com alguma dificuldade que nos seus últimos anos de vida se deslocava. Passou então a ser minha obrigação servir de bengala à minha avó, para a missa das almas e para o seu regresso a casa.
Naquele tempo não havia Internet, nem sequer televisão. Deitáva-me cedo e levantar cedo não era um sacrifício por ai além. O mais perturbante era o lusco-fusco que se fazia sentir ao longo do percurso de ida e o aspecto tétrico da Igreja de S. Pedro àquelas horas, com tudo o que era gente velha e de xaile rezando orações bafientas e assustadoras para um menino de 8/9 anos.
Vá lá que de vez em quando o ambiente era animado com a chegada no final da missa das pessoas que vinham assistir a mais um casamento marcado em condições quase clandestinas para aquela hora. Naquele tempo realizavam-se casamentos no final da missa das almas. Era o casamento das grávidas. Mulher que ficasse grávida antes do casamento e cuja barriga se notasse, era certo e sabido que casava de madrugada para não servir de “vergonha” à família.
E eu já sabia que dia em que houvesse casamento na missa das almas, havia falatório em casa da minha avó. Hoje penso que devia haver gente que ia à missa das almas, só para poder ter assunto para mais umas horas. Aqui para a gente sempre vos digo que também a minha mãe casou na missa das almas, já que o meu pai não era pessoa para deixar as coisas por fazer.

1 comentário:

estrela disse...

Olá Zé Maria,

Apesar de ser ateia, adorei esta crónica sobre a missa das almas.
Peniche, em termos religiosos, foi para mim sempre um sufoco. Em pequena tive obrigatóriamente que frequentar a catequese, fazer a 1ª comunhão, comunhão solene e a profissão de fé.
Para quê? Hoje sou ateia convicta!
Continuo a ser uma leitora assídua das tuas crónicas, continua.
Belmira