terça-feira, junho 17, 2008

22 ANOS
Tantos como os que me separam do momento brutal em que a notícia brutal me apanhou completamente desprevenido. O meu pai tinha morrido. Menos de uma hora antes eu vinha da Lourinhã e passei por casa de meus pais para o ver. Recordo que quando já eu ia a sair ele me disse qualquer coisa de que eu me ri e respondi-lhe. “- Você é sempre o mesmo”. Tentei milhares de vezes recordar o que ele me teria dito e não consigo. Bloqueei por completo em relação às últimas palavras que lhe ouvi.
Tenho uma recordação viva de meu pai. E continuo a sentir a mesma saudade dele hoje, que senti logo no primeiro dia em que morreu. Sinto a sua falta. Sinto falta dos seus juízos. E tenho uma imensa pena que ele não tenha conhecido a Maria.
Eu tenho aliás uma teoria muito minha em relação aos dois. Ele morreu dois meses antes de ela ter nascido. Eu conhecendo-a como a conheço penso que ele reencarnou nela. Ela tem todas as características do meu pai em particular e dos “Baterremos” em geral.
Como eu recordo mais o meu pai é no “Café Aviz” de fato de ganga e de boina. Tenho uma foto dele a conversar com o Sr. Acelino que retrata na perfeição o que estou a dizer.A foto foi tirada em 7 de Junho de 1972 pelo Gentil. O curioso desta foto é que o verso é tão importante como o que retrata. Isto pelas anotações escritas pelo meu pai e, pela assinatura no canto inferior esquerdo onde pode ler-se, “Gentil – Equitador e a data”.Para os que se lembram, o Gentil é um ícone de Peniche. Que retratou de forma magistral momentos das pessoas de Peniche únicos. Como é este caso. O meu pai é uma figura indissociável da oficina e do Café Aviz. Foi ali que germinou a ideia da formação do GDP.
Recordar o meu pai hoje, é um desfiar de histórias e momentos sem fim. Amo o meu pai.

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