quinta-feira, junho 19, 2008

O ALCANTARENSE
Naquele Verão de 1966 eu tinha passado para o 3º Ano do Curso de Química Laboratorial e Industrial do Instituto Industrial de Lisboa. Nesse Verão eu já tinha o meu futuro nos 4/5 anos seguintes: ia para Mafra, para a tropa.
Nesse Verão o “Novo Rumo” tinha tido uma avaria que se previa iria demorar uns bons meses a ser reparada. Estavam comprometidas as viagens de barco para turistas às ilhas Berlengas.
Foi então que alguém se lembrou do “ALCANTARENSE”. Era o barco que promovia os salvados marítimos em toda a costa portuguesa. Continente e ilhas. Barco que naufragasse e que não tivesse recuperação, lá ia o Alcantarense levantar os destroços para serem vendidos. Era propriedade do Sr. Joaquim Pinto que era um velho amigo de meu pai. O meu pai era mesmo como o procurador dele, tratando de todos os seus assuntos.O Sr. Pinto era ainda o proprietário dos tractores que em Peniche puxavam os barcos para terra para serem reparados sazonalmente e que depois os tornava a por no mar.
E assim o Alcantarense salvou naquele Verão os milhares de turistas que rumavam à Berlenga para as curtas visitas habituais. O Alcantarense foi adaptado e o Sr. Pinto deu-me a mim a tarefa de vender os bilhetes para as visitas à Berlenga nesse Verão. Foi o meu primeiro salário antes de ir para a tropa.
Vem isto a propósito de uma foto do Sr. Pinto que me veio parar às mãos. E de tudo isto em flash me recordei. O Sr. Pinto era um filósofo de quem tenho inúmeras histórias que um dia terei de escrever aqui. Quando ele entrava no Aviz, acabava o silêncio. E quando ele se juntava ao Acácio Horta era como se uma multidão lá estivesse.
O Sr. Pinto era um homem com um coração do tamanho do mundo. Daqueles que ajudaram a construir Peniche, num tempo em que muitos outros agora “muito papagaios” se limitavam a apodrecer aqui a sua existência. O Sr. Pinto era um músico fantástico. Guardo em lugar de honra em minha casa os acordeões e o trompete com que abrilhantou muitos anos as noites da antiga “Emissora Nacional” e que ele antes de morrer me quis oferecer. Sou um fã do Sr. Pinto nas muitas vertentes que a maioria das pessoas não lhe conhecia. Ainda espero um dia voltar a conversar com ele.

2 comentários:

Manuel Leonardo disse...

1966 , a data esta'errada
Manuel

. disse...

Olá Prof.!

Tenho visitado regularmente este seu espaço de conversa para me ir "actualizando", sobre os alguns assuntos ligados a Peniche e outros não menos interessantes, confesso que dos muitos tópicos relacionados com Peniche, a maior parte me passam pelas abertas...daí ser um visitante cada vez mais assíduo deste espaço.

O Alcantarense...se não me falha a memória, o meu Pai foi motorista desta embarcação durante os anos 60, ajudando na época na recuperação de salvados, julgo que ainda fez algumas viagens para a Berlenga antes de ter imigrado para França. Por vários motivos fui criando um especial interesse pela historia desta embarcação, mas não tem sido facil encontrar registos sobre a mesma...

Seria possivel o Prof. disponibilizar algum material (se existir)...registos fotográficos ou manuscritos/outro, sobre o Alcantarense?

Desde já agradeço a atenção!

Um forte abraço
Nelson Reis