terça-feira, outubro 14, 2008

ESCOLA, QUEM ÉS TU?
Em Agosto de 1993, sete pessoas meteram mãos à obra e no tempo recorde de um mês e sete dias, abriram as portas de uma escola que se veio a tornar em pouco tempo uma referência para a zona Oeste e para a Direcção Regional da Educação de Lisboa. O que foi o esforço titânico da Maria de Jesus, do Pacheco, da Maria José e do José Avelino, é algo que fica para a memória dos que se orgulham de ter participado naquele processo.
A certa altura o Ministério da Educação optou por nos escolher para referenciar o que a Autonomia e um Projecto Educativo nascido com a participação de todos, poderia ser o expoente máximo.
Os anos passaram e o apelo da política autárquica levou para outras actividades o autor destas linhas. No meu regresso à Escola não calei a minha participação, nem me acomodei a uma figura de retórica que espera o render da guarda. Calei quando me deveria calar. Reclamei quando devia reclamar. Fui incómodo e participativo porque é assim que leio o papel dum professor na Escola.
Até que chegou o momento de me reformar. No dia 1 de Junho de 2004, atingidos os 37 e tal anos de serviço e os 60 anos de idade fui libertado das minhas funções e passei a engrossar o grupo dos dispensáveis. No dia em que fui à Escola tratar dos últimos papéis para ratificar essa situação, recebi dois beijinhos da Chefe da Secretaria, votos de felicidades e um aperto de mão do Pacheco. Um até sempre do pessoal da Secretaria que me conhecia e saí da Escola que amei com o peso da solidão e da tristeza por não ter pelo menos ninguém responsável do Corpo Docente a dizer-me ao menos: “ Tudo bom para ti pá!”
Durante uns dias ainda esperei receber em casa algum ofício de despedida. Nada.
É que, queiram ou não, eu não fui um professor qualquer na Escola da Atouguia da Baleia. De facto não podem transmitir valores aqueles que os não têm, e assim passei à frente.
Passados mais de quatro anos sobre estes acontecimentos recebi em casa um envelope que me deixou perplexo e lá dentro vinha sem mais nada, um folheto impresso na tipografia.Eu não sou um professor qualquer, apesar de ter sido tratado de qualquer maneira. Se não perceberam ainda isto, então é porque não perceberam nada. Eu fui o professor que tornou possível o sonho mítico da Escola da Atouguia. Se não sabem honrar aqueles que mereceram passar por aquela Escola, então não os convidem. Não sei a que tipo de atitudes algumas pessoas estão habituadas. Para me poderem convidar, é necessário merecerem poder fazer esse convite. Não é por um “prato de lentilhas” que me fazem dobrar a coluna vertebral. Por muito mais, já outras pessoas tentaram e não conseguiram. Não me admira que as Escolas enfrentem problemas. Enquanto não se tornarem defensores de valores e de atitudes cívicas, não podem desejar ser respeitadas. Dizem à “boca-cheia” que o Ministério não respeita os professores. Pois se eles não se respeitam uns aos outros…
Como é obvio recuso o convite.

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