sexta-feira, março 25, 2011

RENDAS DE BILROS: - O FIM ANUNCIADO

Em boa hora a CMP está distribuindo pelas escolas básicas vídeos e puzzles sobre as Rendas de Bilros. As nossas crianças transportarão assim com elas a memória de um artesanato característico do nosso Concelho que dentro de alguns anos só será possível ver e compreender em Museus. Dentro de alguns anos, tão difícil como mumificar corpos à maneira egípcia, será executar rendas de bilros tal como hoje as conhecemos.
Sejamos claros. Ninguém hoje está disponível para estar uma semana ou mais sentada numa almofada a trabalhar na sua execução, para depois vender esse trabalho por 50€. Se nós advogamos um salário mínimo nacional de pelo menos 500€, quem é que consegue da forma como são hoje comercializadas as rendas de bilros e com a retracção ao consumo que existe, vender o seu trabalho em rendas de bilros pelo menos por 600€ por mês, de forma a pagar piques, linhas, alfinetes, bilros e cerzideiras e a tirar o ordenado mínimo para si?
Quem são as jovens de hoje que estão disponíveis para estar 8 horas diárias fechadas numa sala a dar ao dedo, limitando assim a sua capacidade de poder ver para além de 4 paredes, alfinetes e bilros?
Faz bem a CMP e o seu Vereador da Cultura em concursos junto das crianças. Faz bem em organizar as mostras de rendas com outros países em que esta forma de artesanato ainda existe. Deveriam aliás ser recolhidos em Vídeo estes momentos. Para memória futura.
Desaparecendo as pessoas com mais de 50 anos assim desaparecerão as picadeiras, as cerzideiras e as rendilheiras.
Ficarão umas quantas que pagas a peso de ouro realizarão algumas aplicações mais simples para utilizar em vestidos de noiva mais sofisticados ou em adereços de alta-costura. Mas então já não sobrarão encomendas. Só artífices mais conceituadas realizarão essas obras de arte.
Dos cursos de Formação de Rendas de Bilros realizados consumindo o dinheiro de todos nós, quantas rendilheiras ficaram? Onde trabalham e para quem? Para si próprias? Para firmas dedicadas a esse comércio?
Bem empregue é o dinheiro que a CMP consome nas suas iniciativas e na manutenção da sua Escola de Rendas de Bilros. O Jardim Público é um óptimo local de exposição do pouco que resta. Pena o Museu de Rendas de Bilros não ocupar um local central da nossa cidade. Onde a par da Escola os visitantes pudessem consultar o espólio magnifico de que Peniche é portador e guardião.
Mal empregue é o dinheiro consumido na manutenção da ficção que constitui a “Peniche Rendibilros”. Balões de soro não lhe dão nem convicção, nem labor nem criatividade suficientes para justificar a existência de um mecenas, como se vivêssemos em tempo de vacas gordas. O dinheiro assim poupado poderá reverter a favor das iniciativas que a Câmara vai desenvolvendo para manter estas memórias.
Já que têm os seus dias contados que ao menos as Rendas de Bilros acabem com dignidade.

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