terça-feira, março 15, 2011

UMA HISTÓRIA SUBLIME
Alvéloas e Andorinhas
No passado domingo quando fui passear o meu cão ao regressar a casa fui surpreendido com os trinados de uma andorinha. Foi a primeira que ouvi este ano. Apesar de um Inverno alargado as avezinhas têm um relógio biológico que não se compadece com a nossa má impressão sobre o tempo. Maravilha-me este eterno retornar aos ninhos em que nasceram para também elas nidificarem.
Ontem, encontrei o Sr. João Garcia e contei-lhe da minha primeira andorinha deste ano. Ele que também mantém (tal como as andorinhas) o seu labor rotineiro entre a casa e a fazenda, contou-me das espécies que anualmente vê chegarem e partirem num método que ano após ano se vai repetindo. Falou-me de espécies que já viu desaparecerem por culpa dos fertilizantes e da construção civil. Falou-me dos grilos que estão a desaparecer e disse-me que para ele que se agarra à terra por amor e prazer começa a ser difícil conviver com uma Natureza que já deixou de ser a que ele conheceu.
E foi então que me contou uma história que o avô lhe contou e que nunca mais esqueceu. E disse-me que as suas aprendizagens sobre as coisas do campo eram assim feitas. Por tradição oral que passava de pais para filhos e de avôs para netos. Assim aprendiam os ciclos da Natureza e a forma como os seres vivos, plantas e animais lidavam com isso. A história é para se perceber que andorinhas e alvéloas têm ciclos diferentes de presença no nosso país. A chegada de umas corresponde à saída de outras. E embora as alvéloas estejam a desaparecer quase por completo aqui no nosso concelho, o Sr. João nunca mais esqueceu esta belíssima história que eu aqui reproduzo pela graça e picaresco que contém. O que não há dúvida é que a história contém uma lição de história natural que lhe ficou para a vida. Nascimento, vida, reprodução e morte das aves nas suas deambulações em busca do calor pelos diferentes continentes.

Cruzaram-se nos ares de Portugal Continental. As andorinhas chegando e as alvéloas partindo.

As andorinhas regressam aos locais de nidificação. As alvéloas partem em bandos depois de já terem nidificado e terem ensinado as crias a voarem.
Dizem as as alvéloas para as andorinhas:
- De onde vêem suas loucas. Que eram tantas e agora são tão poucas?
Ao que as andorinhas respondem:
- Para onde vão suas putas? Que eram tão poucas e agora são muitas?

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