terça-feira, julho 05, 2011

O SONHO EUROPEU
Em 1976 eu estava a trabalhar como cooperante na Guiné-Bissau. Ao contrário de certos “papagaios pseudo-revolucionários” não me quedei pelas palavras de ordem e pelos gritos de solidariedade. Fui para onde poderia ser útil. Daí que me sinta hoje com “moral” e “voz activa” para quando não concordar, afirmá-lo. Não me refugio atrás de pseudónimos, nem me arrogo à petulância de ser ideólogo ou defensar cego de uma qualquer ideologia.
Numa noite de 1976 eu estava a conversar na esplanada do Pidjiguiti a conversar com um cooperante amigo, que mais tarde se tornaria Assessor Cultural de dois Presidentes da República Portuguesa, o José Manuel dos Santos. A certa altura ele diz-me com a maior das naturalidades: “- A Europa é um continente em decadência. Cultural e ideologicamente já pouco nos pode oferecer. É do Continente Americano e da África após ver consolidada a sua identidade, que poderemos esperar avanços significativos quer do ponto de vista ideológico, quer cultural.” Isto foi dito em 1976.
Quando hoje assisto ao deambular de uma Europa que teima em não se redescobrir, dirigida e orientada por funcionários políticos ao serviço dos grandes grupos económicos recordo-me do Zé Manel e das suas palavras naquela noite de cacimbo de Bissau.
Entre a Carla Bruni e o Berlusconi, venha o diabo e escolha. Nós por sermos periféricos e sem traumas em relação ao passado, poderíamos ser portadores de uma nova ideia para a Europa. Mas ficamo-nos pelos gritos de contestação e pelos governos das jotas, seja lá isso o que for.
E ficamo-nos pela subserviência individual e colectiva. Somos servos de senhores ou de grupos económicos ou de ideologias, por mais válidas que nos possam parecer. Perdemos a nossa capacidade de análise e de critica. É mais fácil ser conduzido que conduzir e perdemos o sentido do magnífico legado de D. Filipa de Vilhena.

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