quarta-feira, junho 13, 2012

(DES)RECORDAÇÕES

Ía para a Escola a pensar no pinhal. E nos Remédios e no Cabo Carvoeiro. Quem nos segurava aos rapazes e raparigas? Todos levavam já qualquer coisa para comer durante a tarde e os que não levavam nada, pensavam no almoço dos atouguieiros e dos ferreleijos que seriam roubados para servirem de festim. A bagunça era tanta, e os pedidos para ir para os passeios eram tantos, que os professores intercediam por nós e a velha Directora acabava a contragosto de ceder e decretava feriado para festejarmos a 5ª feira de Ascensão. A pouco e pouco foi diluindo-se essa comemoração e agora só os mais velhos vão às floristas comprar um raminho de espigas, papoilas e malmequeres que antigamente apanhávamos à medida que caminhávamos e que todos contentes levávamos para casa para oferecer às nossas mães e avós.

No início do mês de Junho as raparigas do meu tempo começavam a cortar bandeiras de muitas cores em papel de seda. Os pais traziam bocados de cabo das “cabanas” que iram servir para atravessar as ruas. Pais e mães, avôs e avós iam trazendo para os pátios bocadas de madeira das caixas velhas e restos da serração do Jaquim Vital ou dos estaleiros do Manel Malheiros. 3 ou 4 dias antes já nós sabíamos onde se iriam fazer as fogueiras de Stº António, S. João e S. Pedro. E depois destes (tanto quanto me lembro) ainda aparecia um tal santo S. Marçal de seu nome. Da parte da tarde dos festejos íamos apanhar alcachofras lá para os caminhos do Forte da Luz, ou nos caminhos velhos do Lapadusso. Os mais afortunados punham um rádio à janela para termos música e se algum por razões de destino tinha um gira discos era assim que o arraial colorido se desenvolvia. Nós, rapazes e raparigas corríamos as ruas de Peniche de Baixo e de Peniche de Cima para saltarmos de fogueira em fogueira, e os mais afortunados tinham nesse dia alguma liberdade para trocar uns beijos com as namoradas que nesses dias estavam de rédea solta. Também são agora as floristas que vão vendendo uns manjericos a preços proibitivos se pensarmos no valor do euro convertido em antigo dinheiro penicheiro.

Os santos populares são hoje festa em Lisboa, Porto e em mais algumas cidades que escolheram como seus patronos esses santinhos populares. Amanhã, ninguém se recordará que alguma vez prestamos vassalagem aos reis de Espanha ou que alguma vez existiu aqui uma monarquia. Também com a república das bananas que somos que importância tem isso?

O meu voto é para que Portugal ganhe à Dinamarca em dia de Sº António e de Fernando Pessoa. Eu já acendi uma velinha ao Santinho que herdei do património da minha avó.

VIVA PORTUGAL

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