terça-feira, julho 16, 2013

A MORTE

A todos nós afecta de forma mais ou menos próxima. A morte de uma mãe, ou de um pai, de um filho ou de um irmão, de um Amigo, deixa em nós um vazio que nunca mais será preenchido. Algum ou alguns deles são marcos da nossa existência e deixaram mesmo um rasto na nossa forma de ser e estar que contribuíram decisivamente para as pessoas que hoje somos.
Porque um “Homem está sendo”, porque “ele é ele e as suas circunstâncias”, evoluímos como pessoas com eles que nos ajudaram a construir em cada momento o nosso futuro.
À medida que os anos passam, mais irremediável é perdermos as nossas referências. Embora elas (ou eles) estejam sempre presentes em nós. Tudo isto vem a propósito de um belíssimo poema de W. H. Auden, que ontem 1º ouvi e depois reli com o êxtase que só sinto em circunstâncias muito especiais. O poema é conhecido, foi utilizado no filme muito popular, “Quatro Casamentos e Um Funeral”. Transcrevo-o hoje na certeza de que será bom para cada um de nós lê-lo enquanto recordamos “esse” alguém muito especial da nossa vida.

FUNERAL BLUES
w.h. auden

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com os tambores em surdina
Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.

Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram o bosque;
Pois agora tudo é inútil.

(tradução de Maria de Lourdes Guimarães)

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