terça-feira, julho 23, 2013

"DIAS ALUMIADOS"

In memorian da Ti Ção Farronca

Estas duas palavras conjugadas, que fizeram parte do vernáculo penicheiro (e não só), são do tempo da missa das almas, às 6 (ou seria 7) da manhã, muito frequentada pelas mulheres mais velhas de Peniche, pelas viúvas e pelas pessoas que por razões espúrias tinham algo a esconder. No final da missa das almas, celebravam-se os casamentos das raparigas que já estavam prenhes, porque era uma situação que não coadugnava com os preceitos da Santa Madre Igreja: ter relações sexuais antes do casamento.
Normalmente eram casamentos de fugida, com poucos participantes para além da família mais próxima e dos padrinhos.
Também se realizavam a essa hora os casamentos em que toda a gente (o cortejo) se deslocava a pé, pois os automóveis eram um bem só possível para alguns eleitos.

Mas voltemos à designação, “dias alumiados”. Eram assim porque eram dias de acender velas. Por fé, por celebração dos mortos, para honrar os santos. Eram dia de Festa ou de devoção. Mas eram sempre dias em que as velas eram o principal elemento motivador demonstrativo do fervor religioso.
O recurso à luz eléctrica em abundância ou às lâmpadas fluorescentes, vieram roubar às velas o seu papel central e tornaram-nas um símbolo, só utilizado em algumas circunstâncias, no sentido da manifestação de FÉ como elemento fulcral da vida dos crentes.

Em algumas casas de Peniche, as “velhas beatas” (e digo isto com sentido carinhoso) ainda fazem circular um altar em ponto pequeno com a designada “sagrada família”. Nesses dias, nessas casas, retomam-se os “dias alumiados” com preces e terços, repondo a verdade dos dias antigos em que o catolicismo era uma forma de estar na vida, com o seu Deus e Diabo e outras figuras míticas. Nesses dias os mortos são venerados, os Santos são honrados e ganha força a expressão de fé que algumas (poucas) pessoas ainda alimentam.

Sem comentários: