quinta-feira, outubro 31, 2019


A MÁQUINA DO TEMPO

Acontecimentos existem que nos transportam ao passado a memórias que nos marcaram. Hoje foi um dia desses. Um acontecimento que eu não esperava levou-me à década de 50 do século passado. O meu pai trabalhava que nem um louco numa oficina criada por ele para poder melhor dar segurança à família e aos seus devaneios.

Aos fins-de-semana íamos para casa da minha avó fundir chumbo que comprávamos a preços de ferro-velho para fabricar “chumbicas” que seriam depois de tratados da fundição caseira fornecidas às firmas de aprestos marítimos que as venderiam aos armadores para intercalar nas redes da pesca de cerco.

O acréscimo deste dinheiro serviria para ajudar a pagar empréstimos financeiros que tínhamos contraído junto de um “agiota” dando como penhor a nossa casa da Praça Jacob Rodrigues Pereira. A certa altura o meu padrinho Eduardo caldas Pereira emprestou-nos o dinheiro necessário para pagar ao usurário e ficámos a pagar-lhe a ele a juros de lei.

Recordo como se fosse hoje que no dia em que pagámos ao meu padrinho a última prestação, a minha avó matou uma galinha e foi dia de festa.

O Sr. Teixeira que nos tinha alugado o rés-do-chão disse ao meu pai que nunca tinha acreditado que conseguíssemos pagar a divida e que ele a certa altura sonhou ficar ele com a casa. Não ficou.

A casa foi transmitida pela minha avó ao meu pai e o meu pai transmitiu-a aos filhos. Os filhos fizeram divisão de bens e aquela casa que me custou tantos fins-de-semana acabou para ir parar aos meus sobrinhos.

Tenho procurado manter uma relação com a casa que também foi minha para além do que parece razoável. Julgo que esse meu contacto com “A CASA” irá acabar em breve.

Vou procurar pensar no que o meu pai dizia, não te fixes no que passou mas sim naquilo que ainda podes construir no futuro. Assim seja.

 

   

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