sábado, outubro 05, 2019


O LEGADO DO MEU PAI

O primeiro é o amor que sinto hoje por ele, tão imenso quanto o que sentia há 33 anos quando ele morreu.

Sinto a sua falta. Quantas vezes estou em casa e dou por mim como que a conversar com ele. Gostava que ele visse esta casa, que foi aquela em que nasceu, como a tenho estimado e melhorado. Gostava que ele visse o que tenho feito com as coisas que lhe pertenciam, bem como com as que eram da sua mãe e da sua avó.

Gostava que ele estivesse aqui e se chateasse comigo por eu manter este perfume de esquerda, ele que abominava que eu fosse assim. Quantas discussões tivemos nós por isso. E muitas das coisas que ele dizia (e eu não concordava com ele) vieram a verificar-se.

Gostava que ele visse o espaço da Cerca Andrade onde ele tinha a oficina, hoje desaparecida pela voragem do imobiliário. Gostava que ele visse hoje a garagem da Travessa Garrett e a sua utilização.

Gostava com todas as minhas forças que ele conhecesse a minha filha e sua neta. O meu pai morreu 2 meses antes da minha filha nascer. Cá para mim o seu espirito quando se volatilizou entrou na barriga da minha mulher e passou a fazer parte integrante do ser da sua neta. Tal como ele, é dedicada às mecânicas. Perseverante. Aluna trabalhadora e dedicada. É mestre pelo Técnico. Condutora exímia. Condutora experimentada. Teimosa q.b. è uma autêntica “Baterremos”. E hoje fala do seu avô Horácio como se ele tivesse feito parte integrante da sua vida desde sempre.

Como adorava que o meu pai conhecesse o seu bisneto. Com uma habilidade e gosto pelo futebol que entusiasma quem o vê. O pé direito é o seu forte tal como o seu avô Horácio. Estar com a minha filha e com o meu neto é renovar sempre o amor que sinto sempre pelo meu pai.

Ele ensinou-me um ror de coisas. A ser responsável pelos meus defeitos e virtudes. Ensinou-me a ser critico de mim mesmo e do que me rodeia. Recordo as lições recolhidas na Universidade da oficina da Cerca Andrade com ele, o Sr. Adelino (o Ministro), O Sr. Acelino que me deu as melhores lições sobre o republicanismo em Peniche (Estão na minha biblioteca os discursos de António José de Almeida que ele me ofereceu). Eram também lá professores e mestres o Sr. Henrique Coutinho, o cirurgião Dr. João de Sousa Carvalho. O Joaquim Pinto, o Lio e tantos e tantos outros responsáveis pela minha formação como Homem, futuro professor e autarca.

O legado do meu pai foi tão grande que hoje o sinto entranhado em mim próprio. Faz parte de mim. Falar dele assim não é pagar uma divida. É exteriorizar o que todos os dias sinto.

Estou aqui no dia em que se comemora em minha casa a data do seu nascimento (5 de Outubro de 1914) dizendo o que sinto pelo meu pai.         

Sem comentários: