segunda-feira, setembro 03, 2007

CORRESPONDÊNCIA II
Transcrevo um texto notável que me acompanha desde os meus tempos de cooperante na República da Guiné-Bissau. Foi-me oferecido por um amigo que o pudor (ou a modéstia de me não achar dele merecedor) me impede de dizer o nome do autor. Resta dizer-vos que é um grande senhor das letras portuguesas que identifico com 3 maiúsculas.

No vale submarino dos mares subterrâneos apareceram olhos algemados às imagens dum passado-presente (ou dum presente-passado, não se sabia!)
Mais além, um pé torcido de como quem brincou à cabra-cega, permanecia encostado a um poste telegráfico na tentativa de comunicar ao outro pé pairando algures.
As mãos abertas entrelaçadas no vazio que era a única coisa possível que existia, apercebiam-se de que, o que fosse agarrado, era combustão dum petróleo incendiário e humano.

Alguém, algures no planeta, de hábitos cosmopolitas, enquanto ao pequeno almoço comia presunto fumado, abriu um jornal americano e leu ao centro da primeira página a seguinte notícia:
“A guerra continua. Em Hiroxima foi lançado um estranho engenho explosivo a que os técnicos chamam bomba atómica.”
Sinal particular: nesse dia, nesse jornal americano, a secção de Necrologia não tinha nenhum morto a lamentar.

JMS

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