quinta-feira, setembro 20, 2007

Eu, professor me confesso
“Vou ensinar aquilo que sei. Em muitos casos vamos ficar na dúvida. A dúvida é científica. Às vezes é mais científica que a verdade.” ( Maria Helena da Rocha Pereira)
Maria Helena da Rocha Pereira foi a primeira mulher que chegou a professora catedrática da Universidade de Coimbra, em 666 anos da mais antiga Universidade Europeia.
Diz-nos aquilo que todos nós sabemos mas que muitas vezes fingimos não saber. Muitas vezes achamos que se o aluno souber que não sabemos, pouco nos não respeitará, ou não nos respeitará de todo. Cá para mim não saber torna-nos humanos. Prende-nos à nossa eterna condição de viajantes da aprendizagem.
E só os tolos ou os autocratas sabem tudo. A minha vagabundagem pelas escolas, desenvolveu-se no início dos anos 70 nas escolas secundárias leccionando os Desenhos de Máquinas e Esquemático, a Mecânica Geral e Técnica, os Orçamentos e Contas de Obras e a Tecnologia Mecânica. Depois passei para a Física e Química, com uma breve surtida na Matemática e na Geometria Descritiva. Quando me vi a ter que optar entre sair do ensino ou não garantir vínculo, a minha saída era concorrer para Trabalhos Manuais, o único grupo para o qual possuía habilitação própria. No 1º ano que concorri ao grupo concorri para estágio e fui colocado em Coimbra a fazer estágio junto de um escol de artistas e técnicos, como nunca mais encontrei em lugar algum.
Eu que julgava que era um grande professor, não enxergava nada daquilo. Eu que tinha sempre trabalhado sozinho numa sala de aula, via-me agora com colegas com quem tinha que repartir o meu espaço. Eu que sempre tinha trabalhado com jovens entre os 13 e os 18 anos, via-me agora perante miúdos de 9, 10 e 11 anos. Sabia lá eu pregar um prego, modelar em barro, fazer ponto cruz ou tecer tapeçarias... Só sabia dizer não sei. Admitindo a minha ignorância comecei a aprender tudo de novo. Tive um grupo fantástico de colegas que ficavam depois das aulas ajudando-me a aprender. Foi uma tarefa esgotante de que hoje me orgulho. Foi em Coimbra que aprendi a dizer não sei. Daí para cá nunca mais deixei de o fazer.
Essa aprendizagem “do-não-sei”, tem-me sido útil vida fora. Passados muitos anos quando fiquei cego e precisei da ajuda dos meus alunos, não me custou nada dizer, “ajudem-me que não vejo”. Os meus alunos deram-me lições de humanidade que nunca mais vou esquecer. Bem hajam eles por isso.

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