terça-feira, setembro 18, 2007

SENHORA MINISTRA DA EDUCAÇÃO
EXCELÊNCIA:

Vou procurar ser moderado e educado no que lhe vou dizer. Isto porque fervo em pouca água e depois acabo por passar-me no que digo. O entusiasmo que ponho no que escrevo e digo acaba na maioria das vezes por ser mal interpretado e confundido com hostilidade. Não é o caso.
Fui professor do Ensino Básico. Hoje estou reformado e sinto-me feliz por isso. Não por temer trabalhar hoje com as Reformas que se têm desenvolvido, mas porque cumpri bem o meu papel enquanto fui professor. E saí de cabeça erguida, como desejo que V. Excelência se sinta quando terminar a sua actividade como Ministra. Eu sinto orgulho no papel que tive como trabalhador do Ensino e sinceramente gostaria que a Senhora quando olhar para trás, possa sentir o mesmo.
Se tem dúvidas quanto ao que digo, mande saber e por certo quando lho disserem, prestará mais atenção ao que lhe quero dizer.
Na maioria das vezes tenho concordado com as reformas que tem produzido. Mas sabe que o problema das Reformas é que mudam os Governos e muda tudo de novo. A Senhora não lhe passa pela cabeça o sem-número de vezes que andámos a recomeçar pelas Escolas. E o que a Senhora diz, já outros tão honestos e capazes como a Senhora disseram. Espero que tenha por pessoas como os Ex-Ministros Roberto Carneiro e Marçal Grilo o mesmo respeito que eu sinto por eles. E que deles pense que não foram nem demagogos, nem incompetentes. O que se passa é que os Ministros passam e as Escolas ficam. E poucos são aqueles que deixam o seu nome ligado a uma nova lógica de Escola que passada uma geração produz Homens e Mulheres diferentes e melhores. Há 20 anos atrás, lancei na Escola Dr. João das Regras uma iniciativa que consistia, em poupar os livros escolares que eram atribuídos pela Acção Social Escolar e no final do ano escolar, com apoio dos pais e alunos eram recolhidos e entregues posteriormente de novo aos novos alunos que iriam precisar deles. O dinheiro que se poupava na aquisição de novos livros era revertido em material didáctico para enriquecimento das actividades pedagógicas. Nessa altura a CAE-Oeste, por determinação do seu responsável no sector, o Snr. Prof. Fernando Carvalho, obrigou a minha Escola a terminar com essa actividade porque os livros eram propriedade dos alunos a quem tinham sido entregues da 1ª vez, não devendo portanto serem recolhidos para posterior doação a outros. Parece que a Senhora viu para além do imediato e esta medida acabou por consagrar-se. Há 20 anos com o apoio da extinta Direcção escolar do 1º Ciclo, eu reunia com os professores que leccionavam o 4º ano de escolaridade e propunha-lhes que ao fim de duas repetências nesse ano, não obrigassem os alunos a manterem-se no 1º Ciclo. Insisti muitas vezes para não haver alunos no 1º Ciclo para além dos 12 anos de idade. Mandassem-nos para o 2º Ciclo. Nós com turmas diferenciadas teríamos outras condições para atingir sucesso, onde o 1º Ciclo já não tinha soluções. Parece que também aqui a Senhora Ministra é da minha opinião.

A Senhora Ministra tem insistido na tecla de que é preciso trabalhar mais. Aqui é que não estamos de acordo. Eu acho que se trabalha muito nas escolas. Refiro-me às do 1º, 2º e 3º Ciclos. Já não estou tão certo disso no Ensino Secundário. (Mas isso fica para outra vez). O que me parece é que se deveria trabalhar diferente e melhor. Os professores de uma maneira geral deixaram-se sufocar em papéis idiotas e alterações sucessivas de metodologias. Mas quando toca a sentirem-se próximos dos alunos e tocarem-lhes na alma, aí é que as coisas são mais difíceis. Cada professor que não resolve na sua aula um problema de indisciplina e chama alguém do Pessoal Auxiliar ou do Conselho Executivo, está “a entregar o ouro ao bandido”. Cada professor que se esconde atrás de um Regulamento Interno para atingir os seus fins, é porque já perdeu os seus alunos e as suas aulas. Sou do tempo em que no início do ano lectivo se lançavam sempre acções de Formação sobre Direcção de Turma, Avaliação, Coordenação dos Directores de Turma. Hoje parece que tudo isto está ultrapassado. Toda a gente percebe de tudo. Sou do tempo em que se aprendia com a colaboração de Orientadores e da Escola, a ser Professor. Hoje dizem que isso se aprende nas Escolas Superiores de Formação de Professores. Eu nem sequer quero referir-me a isto.Só para terminar. A senhora Ministra da Educação sabe porque é que os alunos do Ensino Básico em bloco decidiram rejeitar o Francês? Porque os professores dessa Disciplina tornaram a sua aprendizagem tão seca e árida como a Matemática. Escolhem Inglês porque “do mal, o menos”. Em Inglês sempre existem os Tops da música. Que ajudam à aprendizagem. Uma professora de Francês é uma inimiga a abater. E só não se abatem os de Inglês, porque depois teriam de ir outros, e outros e outros.
Senhora Ministra, veja se consegue dizer aos professores que têm de fazer de maneira diferente e melhor. Mais e mais, é repetir o que há muito foi rejeitado. Não merece a pena e não leva a lado nenhum. Só ao fracasso de sucessivas gerações de portugueses.

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