EXCELÊNCIA:
Vou procurar ser moderado e educado no que lhe vou dizer. Isto porque fervo em pouca água e depois acabo por passar-me no que digo. O entusiasmo que ponho no que escrevo e digo acaba na maioria das vezes por ser mal interpretado e confundido com hostilidade. Não é o caso.
Fui professor do Ensino Básico. Hoje estou reformado e sinto-me feliz por isso. Não por temer trabalhar hoje com as Reformas que se têm desenvolvido, mas porque cumpri bem o meu papel enquanto fui professor. E saí de cabeça erguida, como desejo que V. Excelência se sinta quando terminar a sua actividade como Ministra. Eu sinto orgulho no papel que tive como trabalhador do Ensino e sinceramente gostaria que a Senhora quando olhar para trás, possa sentir o mesmo.
Se tem dúvidas quanto ao que digo, mande saber e por certo quando lho disserem, prestará mais atenção ao que lhe quero dizer.
Na maioria das vezes tenho concordado com as reformas que tem produzido. Mas sabe que o problema das Reformas é que mudam os Governos e muda tudo de novo. A Senhora não lhe passa pela cabeça o sem-número de vezes que andámos a recomeçar pelas Escolas. E o que a Senhora diz, já outros tão honestos e capazes como a Senhora disseram. Espero que tenha por pessoas como os Ex-Ministros Roberto Carneiro e Marçal Grilo o mesmo respeito que eu sinto por eles. E que deles pense que não foram nem demagogos, nem incompetentes. O que se passa é que os Ministros passam e as Escolas ficam. E poucos são aqueles que deixam o seu nome ligado a uma nova lógica de Escola que passada uma geração produz Homens e Mulheres diferentes e melhores.


A Senhora Ministra tem insistido na tecla de que é preciso trabalhar mais. Aqui é que não estamos de acordo. Eu acho que se trabalha muito nas escolas. Refiro-me às do 1º, 2º e 3º Ciclos. Já não estou tão certo disso no Ensino Secundário. (Mas isso fica para outra vez). O que me parece é que se deveria trabalhar diferente e melhor. Os professores de uma maneira geral deixaram-se sufocar em papéis idiotas e alterações sucessivas de metodologias. Mas quando toca a sentirem-se próximos dos alunos e tocarem-lhes na alma, aí é que as coisas são mais difíceis. Cada professor que não resolve na sua aula um problema de indisciplina e chama alguém do Pessoal Auxiliar ou do Conselho Executivo, está “a entregar o ouro ao bandido”. Cada professor que se esconde atrás de um Regulamento Interno para atingir os seus fins, é porque já perdeu os seus alunos e as suas aulas. Sou do tempo em que no início do ano lectivo se lançavam sempre acções de Formação sobre Direcção de Turma, Avaliação, Coordenação dos Directores de Turma. Hoje parece que tudo isto está ultrapassado. Toda a gente percebe de tudo. Sou do tempo em que se aprendia com a colaboração de Orientadores e da Escola, a ser Professor. Hoje dizem que isso se aprende nas Escolas Superiores de Formação de Professores. Eu nem sequer quero referir-me a isto.

Senhora Ministra, veja se consegue dizer aos professores que têm de fazer de maneira diferente e melhor. Mais e mais, é repetir o que há muito foi rejeitado. Não merece a pena e não leva a lado nenhum. Só ao fracasso de sucessivas gerações de portugueses.
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