quarta-feira, abril 15, 2009

FOI QUANDO EM SETEMBRO DE 1966
…assentei praça em Mafra, que numa daquelas corridas malucas que os tropas faziam para se prepararem para a “defesa das províncias ultramarinas” (fosse lá isso o que fosse), que pela 1ª vez que passei a correr no Sobreiro, vi aquela pequena aldeia de barro. Soube depois que era obra de um oleiro daquela aldeia que se chamava José Franco.Passado algum tempo acabei por visitar aquele atelier e fiquei preso para sempre das extraordinárias miniaturas de barro que saíam das mãos daquele artista do barro.
Quando comecei a dar aulas na zona oeste, todas as visitas de estudo incluíam no roteiro a passagem obrigatória pelo atelier de Mestre José Franco, onde recebiam uma lição que valia por todas as que lhes pudéssemos ministrar na Escola, sobre como manusear e criar em barro.
O Mestre José Franco foi pedagogo, professor, criativo e alma mater de centenas de jovens que as escolas persistiam em boa hora em visitar no seu local de trabalhão. Os meninos e meninas que o viram a trabalhar e o ouviram falar sobre a arte e as técnicas do barro, ficaram seus amigos e admiradores. Como ficou Jorge Amado e Beatriz Costa.
Com o tempo e outros afazeres fui surpreendido agora com a sua morte aos 89 anos. Não viu alguns dos seus sonhos concretizados. Morre triste e longe do ambiente familiar, ele que em amor tudo fez.
Julgo que num momento em que se fala tanto do saber da experiência feito, faltou ao Mestre o reconhecimento da sua obra pelo Ministério da Educação. Ele e a obra que foram o prolongamento de tantas salas de aula. É nestes pormenores que falham governos e ideologias. De tanto olharem para o que é grande, esquecem o que é pequeno mas tem a força do Mundo. E assim vão desaparecendo a pouco e pouco as nossas referências.

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