CAIM, SARAMAGO E ABEL
Caim matou Abel. Nesta história bíblica que tem despertado dúvidas e estupefacções ao longo dos tempos Caim o assassino é relevante, Abel o morto-matado, passa ao lado. E agora neste cantinho de poetas de “rimas de pé quebrado” surge mal-disposto e cheio de azia com o que Saramago escreve e sobretudo com o que ele diz.
Tudo bem. Dou de barato que ele se excedeu. Que disse coisas de todo desnecessárias. Que o seu ateísmo confesso não precisa de constantes repetições e ignomínias dirigidas a um deus em que não acredita. Se deus não existe é irrelevante tentar ofende-lo ou apelidá-lo do que quer que seja. Escreva o seu Caim e ponto final parágrafo.
De resto a ser verdade que Deus existe, Saramago não o incomoda. Depois de tudo o que o Nobel disse e fez ao longo da sua vida, não vai acrescentar qualquer pena ao castigo Eterno que já o aguarda.
Estou convicto que O incomoda mais aquele Padre que é apanhado a traficar armas. Ou aquele outro que faz o sinal da Cruz naquela mulher que vai ser queimada na fogueira acusada de feitiçaria. Ou aquele Bispo que abençoa as tropas que vão para África combater pessoas cujo único crime é terem nascido noutra parte do planeta, com outra cor e outras crenças. É mais grave para Ele aquele homem que dizem ser Diácono e que serve aos fiéis a Hóstia Consagrada e é um usurário conhecido pelos seus favores com um preço pré-estabelecido.
O José Saramago pela sua idade (estará prestes a prestar contas dos seus alegados erros) e por ser alguém que nunca O tentou enganar ou trair (não se trai ou engana o que não existe), não será o maior dos problemas de Deus.
Dir-me-ão que é mais grave a falta de respeito do escritor para os que acreditam. Falso problema. Se bem me recordo o que determina a conduta das pessoas é Amar a Deus sobre todas as coisas e Amar o próximo como a nós mesmos. E se haverá coisa de que não podem acusar Saramago é de falta de Amor.
Curto Saramago, não simpatizo muito com Caim, Abel reúne as minhas simpatias por ser a vítima final.
Acho o livro espectacular. Trata-se de uma história de amor/ódio magistralmente contada e literariamente muito bem conseguida. Dirá mesmo que é mais fácil e entusiasmante ler este livro que o Antigo Testamento. E mais não digo.
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