quinta-feira, outubro 15, 2009

CARTA ABERTA A UM AMIGO

Meu caro amigo:
Recordo os tempos em que passávamos horas esquecidas na Nau, a trabalhar no teu Plano Global de Formação e no teu PIT. Na altura discutíamos rumos e caminhos e traçávamos objectivos claros para lá chegar. Eu na altura com mais experiência que tu, e a orientar estágios em Torres Vedras, dizia-te muitas vezes: “- Não importa de onde partes, interessa é conheceres bem o caminho que tens de percorrer para atingires os teus objectivos”.
Até que um dia disseste-me que as tuas tarefas como professor estagiário estavam concluídas. Decidiste mudar de profissão. Desejei-te felicidades e a partir daí só muito ocasionalmente os nossos caminhos se cruzaram.
Também enquanto Penicheiros os nossos rumos só tinham em comum os passeios em que um e outro deambulávamos. Sabia que do ponto de vista sócio-político estávamos próximos, mas também isso não era motivo de aproximação entre nós.
No entanto continuámos amigos. Apesar das nossas vidas profissionais nos terem afastado.
A certa altura vejo aparecer o teu nome ligado a uma organização política que te propunha candidatares-te a um órgão autárquico da nossa terra. E aí comecei a pensar se terias sido alertado devidamente para o que se aproximava. Daqui, disse a certa altura que considerava não ser esta uma altura boa para uma candidatura com pretensões ser apresentada. No final do 1º mandato tudo aponta para que o presidente cessante se suceda a si próprio.
Por outro lado estavas a ser proposto numa fase já muito próxima do acto eleitoral. Não havia tempo para fazer passar a tua imagem junto da opinião pública. E o tempo que passaste fora por razões profissionais, ainda te tinha mais afastado dos cidadãos eleitores. Na altura considerei que quem fosse apresentado em oposição ao actual executivo, representava só um interregno para permitir que os partidos se apresentassem para candidatar o que têm de melhor daqui a 4 anos.
Neste momento seriam apresentadas candidaturas de recurso. Tu sabes que não estou a dizer isto para diminuir as tuas capacidades e valor. Quem está metido na política deve perceber a lógica dos partidos, pois se isso não acontecer corre o risco de servir de carne para canhão. E acredita que nesta matéria já fiz o mestrado.
Percebo que tenhas aceitado o desafio. Tens sentido competitivo e és um lutador. Mas podes crer que foste enganado. E eu sinto com pesar que tu que deste o que tens de melhor, embora tivesses lutado com armas desiguais. Não te disseram tudo. E o que faltou dizer-te foi o que te poderia ter feito vacilar.
Se te digo que sinto pesar é porque lamento profundamente que o teu nome tenha ficado ligado a este desaire. Quando tu és quem menos merece ter passado por isto. O, ou os responsáveis já sacudiram a água do capote. Esta carta tem pois o objectivo de colocar as coisas no lugar e tentar que na medida do possível não te sintas penalizado. Tu tens valor mas não tinhas os dados todos para avaliar a situação. E sem eles não podias ganhar. Repito meu amigo, tu não perdeste. Só não ganhaste.
Os que de facto perderam sabem isso.

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