sexta-feira, outubro 30, 2009

A “DOR DE COTOVELO” A QUE ALGUNS CHAMAM TAMBÉM “DOR DE CORNO”
Quando eu era pequenino, contava-me a minha mãe, passei com 5 dias no velho hospital de Peniche no Largo 5 de Outubro, com uma daquelas dores de ouvidos, que exigiam um tratamento continuado, para impedir que males maiores me acontecessem. Dizia-me a minha mãe que era impressionante ver o meu comportamento face às dores que me assolavam.
Tudo passou. O tempo cura quase todas as feridas e quase todas as dores.
Com a juventude já estavam aquelas esquecidas, surgiram-me as dores de dentes. Um autêntico calvário. A resolução deste drama demorou uns anos e uns milhares de escudos.Passado muitos anos já eu estava esquecido de tudo isto, sou acometido de cólicas renais apavorantes. Morava eu na Rua de Nª Srª da Boa Viagem. Os meus gritos ouviam-se no portão de Peniche de Cima. Passei umas noites no ainda velhinho Hospital. Outras noites passava-as numa banheira com o chuveiro apontado para a zona em que sentia as dores. Ao mesmo tempo que me davam analgésicos injectáveis. Foi mais um tempo de dores horrorosas e abomináveis.
Estava tudo isto esquecido surge-me um cancro no pulmão e a extracção deste. As sequelas deste acto operatório foram difíceis de imaginar a quem não passa por elas. Dores hediondas. Lancinantes. Que só passaram com analgésicos poderosos. Um tempo de autêntico martírio.
Mas hoje está de novo tudo esquecido. Nenhuma dor me resta, nem nenhum trauma me ficou desses momentos apavorantes. Excepto quando muda o tempo. Ou quando há nevoeiro.Nenhuma das minhas dores me deixou marcas com que não possa viver .Que é o que acontece no entanto com alguns que andam por aí desorientados com uma insuportável “dor de cotovelo/corno”. Não passa. Não há analgésicos que a curem. Provoca agonias, inconformidade, azia. Cria um mal-estar permanente. Embota o espírito e faz dizer o que não se quer e escrever o que vai dar origem a arrependimentos definitivos.
A “dor de cotovelo/corno” ataca preferencialmente os que não estão preparados para lidar com o êxito dos outros. Corrói os que desejam o poder a todo o custo. Bestializa os que não suportam ver que há os que triunfam onde eles não passam de meros sujeitinhos. É uma dor característica dos que não sabem perder e tentam ganhar na secretaria o que perdem no terreno. Alguns reformam-se por causa dessas dores. A outros dá-lhes “coisinhas más”. Estas dores dão quando se inicia o princípio do fim.
Não tem cura. Quando se apanha, fica para toda a vida.

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