quarta-feira, fevereiro 09, 2011

CARA Drª ISABEL ALÇADA
Ex.ma Srª Ministra da Educação

Aprendi a gostar de si e a respeitá-la pelos valores que via subjacentes nos livros que assinava. Aos meus alunos costumava dizer: “Façam da vossa vida “UMA AVENTURA”, em que o que aprendem e apreendem são os tesouros da vossa vida.
Quando instalei a Escola onde acabei por me reformar em 2000 com 38 anos de serviço e 60 anos de idade, recebi uma biblioteca vazia de livros. Nesse tempo, ao abrir o séc. XXI ainda se considerava que do recheio de uma escola não fazia parte a literatura. Pois bem, quando reuni com os professores para escolher alguns livros para começarmos a criar a nossa própria Biblioteca, insisti de seus livros serem imprescindíveis para os alunos duma terra de características agrícolas e do interior dum concelho.
Serve esta introdução para lhe dizer que gosto de si e que não me reformei para fugir a nada. Apesar de ter estado um ano de baixa por ter sido operado a um cancro do pulmão, não quis pedir a reforma por doença. Queria sair da Escola pelo meu pé e quando chegasse a altura de naturalmente sair, o que veio a acontecer. Posto isto vamos ao que interessa.

Faça-me o favor de ao fim de uma vida de trabalho nas escolas onde passei por todos os cargos possíveis e imaginários, tendo sido professor do 2º, 3º ciclos e Secundário, onde trabalhei quando não se ganhava nas férias, tenho um conhecimento aprofundado do que é uma Escola, para que serve e quem a serve. Tenho sido muito crítico do papel que os professores têm desempenhado nas Escolas, alheando-se delas, e utilizando muitas vezes os seus benefícios mas sem vontade de participar nos sacrifícios. Sou um opositor feroz do papel dos Sindicatos, que se têm utilizado de professores, Ministério e Escolas para poderem beneficiar as suas classes dirigentes, incluindo os seus cargos intermédios.
Mas reconheço que a Escola ainda é dos sítios em que melhor as coisas correm neste país. Quantos dirigentes das escolas ao longo dos anos foram acusados de corrupção? Compare a senhora Ministra esses valores com os políticos e terá uma agradável surpresa. Os professore são absentistas? É porque a senhora Ministra não frequenta os centros de Saúde. Adiante.
O que me fez passar do sério com a senhora Ministra, foi esta história da EVT.
Tivesse a senhora Ministra proposto que se retomassem as disciplinas de Trabalhos Manuais e Educação Visual e eu cairia rendido aos seus pés.
Num tempo que todos criticamos por se tornar ausente de valores, minimizar o Trabalho Manual, tornando-o o menino pobre do nosso Sistema Educativo é que eu não estava à espera. Afinal a senhora é igual à “cambada” que a rodeia. Eu que sou Agente Técnico de Engenharia e que não tirei curso nenhum à pressa para me tornar “senhor doutor engenheiro”, eu que tenho orgulho em ser filho de um serralheiro mecânico e de uma costureira, eu próprio que tirei um curso de Formação de Serralheiros, sinto que o labor manual é visto por si e pelos que a rodeiam como um asco e uma coisa repelente.
A senhora entrou na paranóia de que ser desempregado licenciado é preferível a ser operário desempregado. Isto porque se calhar os licenciados comem “gourmet” enquanto os trabalhadores manuais continuam a comer sopa de feijão encarnado com arroz.
Perdi o respeito e a admiração que tinha por si. Com tanto que há para corrigir e melhorar nas escolas, acabar a sua destruição visando o Trabalho Manual, só lembraria a um Governo de mentecaptos da qual a senhora acedeu a fazer parte.
Deixo-lhe com mágoa a citação de um provérbio chinês:
“O que diz, ouve-se. O que se escreve, lê-se. O que se faz, vê-se”.

Sem comentários: