O DIA SEGUINTE
Sempre que sou mais intempestivo ou mais cáustico, o dia seguinte é sempre mais interessante. Pelos amigos que me interpelam. Pelos adversários que me insultam. Pelos sinais múltiplos de que fui longe de mais. Para alguns. Para outros terei sido brando. Para muitos sou troca-tintas.
As pessoas habituaram-se a fazer do pensamento uma forma de clubite. Ser coerente é ser fiel. Ser fiel é pensar pela “Voz do Dono”. Se A tem razão, mas tu militas no B, tens de dizer que A está errado e que B é que está certo. É assim que as coisas funcionam.
Eu prefiro pensar pela minha cabeça. E embora tenha as minhas simpatias por certos ideais, se alguém que não os segue tiver razão num dado momento em relação a um qualquer assunto, não serei eu que o desmentirei para fazer um frete a um correligionário.
Dirão que não sirvo para prestar vassalagem. É verdade. Mas sou fiel às minhas convicções e àquilo em que acredito.
No dia seguinte a pretexto de ter que falar com o Raúl Santos, vou sempre ao gabinete dele. Para os que não sabem fica num edifício da CMP onde se costumam realizar exposições, ao fundo de um corredor muito escuro com cerca de 10 metros. Esse corredor faz-me melhor que qualquer tratamento psicológico. É que à medida que o vou percorrendo as luzes acendem-se para eu passar. Isto é a melhor coisa que pode acontecer ao ego de um homem. Incha.
Satisfaz-me então no dia seguinte ver as luzes a acenderem como que dizendo, faça-se luz, à medida que vou caminhando. Penso então que valeu a pena o que escrevi. Pois se até as luzes entram em festa à minha passagem.
1 comentário:
Olá Zé Maria,
Já pensaste escrever um livro com estas crónicas? São fabulosas e merecem ficar registadas precisamente num livro.
Segue o meu conselho...e quando o publicares, avisa, pois sou de certeza uma compradora!
Um abraço, Belmira Estrela Camarão
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