quarta-feira, abril 06, 2011

PERDER BATALHAS NÃO É PERDER A GUERRA

Nasci no pleno da II Guerra Mundial. Fui crescendo com as faltas normais neste tipo de situações. Faltava dinheiro, havia senhas. Faltava açúcar, havia farinha maizena. E por aí fora. Recordo as cantigas que a minha mãe cantava sobre os despojados da guerra. Já adolescente sentia uma vontade enorme de ler as Selecções do Reader’s Digest dos anos 41, 41, e por aí fora em que se relatavam os actos heróicos dos soldados da RAF e dos Americanos, contra os japoneses e nazis alemães.
Não era fácil no final dos anos 50 do século passado e com 13, 14 anos, nutrir algum tipo de simpatia por nazis, fascistas italianos ou por japoneses torturadores e cheios de ódio por tudo o que fosse o ocidente. A leitura das Selecções foi a minha primeira bíblia política.
Com o andar dos anos comecei a sentir alguma comiseração pelo povo alemão, italiano e japonês. Afinal foram destruídos ao longo de uma guerra e com ajuda dos EUA e da Inglaterra conseguiram em poucos anos recuperar os seus países e torná-los florescentes. Aprendi a respeitar esses países. A Alemanha e o Japão tornaram-se o símbolo de como aplicando bem as ajudas recebidas, se pode reconstruir uma nação sem esperança após uma pesada derrota. E a Alemanha era um caso mais paradigmático pois tinha conseguido fazê-lo apesar de dividida e uma parte importante do seu território estar ocupado pelo regime soviético.
A bola terrestre continua a rolar sobre si própria. Caíram os regimes opressivos de leste. A Alemanha tornou-se una e redescobriu-se a si própria. Olhou para a Europa que a tinha humilhado por duas vezes no século XX e percebeu que só tinha perdido duas batalhas. Que existiam formas mais inteligentes de ganhar guerras. Sem perder soldados. Conquistar território sem que alguém a acuse de invasora. Construiu com a França de Pétain uma entidade apetitosa. Foi à RDA e conseguiu um espírito suficientemente arguto para levar avante os seus propósitos. Desconfiados, os ingleses nunca trocaram nacionalidade por recordações de Berlim. Os países menos desenvolvidos ou com maior avidez tornaram-se um alvo fácil. Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda, Itália, foram ocupados sem um murmúrio. Perderam identidade e nacionalidade sem uma queixa. Ou um reparo dos restantes. Somos hoje um feudo respeitador da possessão a que pertencemos. E a coroa de glória de tudo isto é um Tratado de Lisboa que escreve preto no branco a ocupação consentida do nosso território, sem que o Povo Português se tivesse pronunciado. Cobardes que somos perante os poderosos, engolimos a torpeza e deixámos de ser quem éramos. Para estarmos agora onde estamos.

Votar para quê? Para que sejam o Sócrates ou o Coelho os representantes da toda-poderosa Alemanha? Esta deu de barato duas batalhas. Mas foi ela quem ganhou a guerra sem um soldado perdido, sem um arranhão. Esses sobram para nós.

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